DUAS CORRENTES EM DISPUTA

NO PÓS-MODERNISMO E NA CULTURA DE MASSA

Copyright 2020 by Dr. Ernesto de Souza Pachito

PREFÁCIO DO AUTOR

Vivemos a era das pseudo-ciências cuja difusão é potencializada pela indústria cultural. Teorias equivocadas e, mesmo, deliberadamente mentirosas, surgiram desde sempre na história da humanidade. No entanto, em nenhuma época houve uma adesão massiva de pessoas nesta ou naquela pseudo-teoria, como nos dias de hoje.

Não que as teorias sobre alienígenas contempladas sejam propriamente falsas, mas, repousam sobre a impossibilidade de se provar sua validade ou não. Este estado de incerteza é típico da contemporaneidade “pós-moderna”, onde há, em maior ou menor grau, a noção de que mesmo as ciências exatas e naturais repousam sobre axiomas, ou seja, proposições auto-evidentes, mas não comprováveis. Isso também enseja a convivência de teorias até mesmo conflitantes, para a decifração do mundo.

Aqui vai esta tentativa inicial de consideração desse fenômeno midiático, cuja obra seminal, Eram o deuses astronautas? de Erich von Däniken, surgiu nessa data marcante para o Ocidente, o ano de 1968.

  1. AS TEORIAS UFOLÓGICAS SOBRE OBRAS DE ARTE ANTIGAS E SUA IDEOLOGIA

Estamos, atualmente, cercados por teorias que atribuem às obras de arte rupestre, aos baixos relevos antigos, às obras de arquitetura e outras, a possibilidade de terem sido feitas por alienígenas em contato com alguma civilização terrestre antiga. As interpretações são literais e, pelo menos na arte bidimensional, fixam-se em realçar as características denotativas e a mimese da linguagem da obra de arte. Assim, formas que poderiam ser interpretadas como metáforas visuais, ou, manifestações do inconsciente coletivo, são vistas como a mimese de capacetes de astronautas, cabeças de seres de outros mundos ou peles escamosas dos supostos seres reptilianos. Nessas interpretações, o símbolo, no sentido que Goethe atribui a esta palavra, dá lugar a correspondências ponto a ponto entre a obra de arte e seus supostos modelos, como dissemos, criaturas extraterrestres, tidas como representações de “astronautas” alienígenas.

Vejamos o que diz Goethe, em seu Maximen und reflectionen, citado por Umberto Eco: “[…] Verdadeiro simbolismo é aquele em que o elemento particular representa o mais geral, não como sonho ou sombra, mas como revelação viva e instantânea do imperscrutável”. (GOETHE apud ECO, 2000, p. 73).

Mas isso não é o que ocorre com a Arqueologia Ufológica.

Nesta, trata-se de neo-iluminismo, ou, neopositivismo, que usa a razão “linear” para chegar aos objetivos dessa interpretação, voltados a suposições e à possível, para os autores dos textos em questão, presença de alienígenas entre nós em tempos passados, como dissemos, mas não só, pois também para o tempo presente são levantadas hipóteses de aparições e contatos entre extraterrestres e humanos.

Este trabalho é de caráter de análise lógica da literatura alegadamente científica; e de caráter de análise comportamental e política, na medida em que tais conteúdos são recebidos de alguma maneira por uma grande população de leitores e telespectadores, já que há séries não-ficcionais de TV de grande alcance internacional, neste tema.

Simplesmente, a citada maneira de abordagem dos fenômenos de arte já é uma maneira ideológica, como disse, ela nos remete ao Iluminismo e ao positivismo, evitando abordagens psicológicas, como as de Carl Gustav Jung, calcada nos conceitos de inconsciente coletivo e de sincronicidade. Também, nessas “teorizações”, não é utilizada qualquer abordagem dialética, ou de um dualismo de oposições que convergem entre si, salvo as contidas nos conceitos da física quântica e relativista apresentados nas interpretações. Mas estes conceitos da física moderna recaem, nos textos estudados, numa explicação mecanicista e numa leitura denotativa, como já dissemos, das obras de arte e dos fenômenos cósmicos supostamente ligados à origem destas obras. Também não são realizadas abordagens fenomenológicas, num tipo de aproximação que coloque em suspensão a diferença entre sujeito e objeto de estudo. Claro, o público alvo dessas obras não toleraria.

No que segue, abordaremos livros de Erich von Däniken (o pai do gênero), Zecharia Sitchin e David Childress, além de algo da série de TV por assinatura Ancient Aliens (Alienígenas do Passado, em português).

Esta última série parece focalizar, principalmente, monumentos megalíticos e as construções que possuem, em suas paredes ou muros, os megálitos, pedras gigantes, levantando, inclusive, as hipóteses de levitação, corte a laser e moldagem de blocos com argamassas especiais. Lógico, esta é a manifestação nítida dos fenômenos observados, sendo mais difícil de ser atribuída a humanos normais, dado o óbvio peso dos blocos e as distâncias dos monumentos em relação a pedreiras que seriam a origem de tais blocos.

Por exemplo, muito comum, também, pelo menos na série Alienígenas do Passado, é a comparação de figuras estilizadas com uma cabeça grande, e olhos circulares também grandes no interior dessas cabeças, com supostos alienígenas, mas na história da arte, tal cabeça de grande proporção em relação ao corpo, e mais os olhos exagerados, podem ocorrer devido máscaras, a traços estilísticos expressionistas, ou ainda, traços simbólicos que podem se referir a emoções até mesmo ligadas a algum êxtase em rituais de iniciação.  No entanto, todo simbolismo que não remeta a seres extraterrestres é rejeitado na abordagem de Alienígenas do Passado.

Como somos pragmatista de viés peirceano, não queremos que tais teorias sobre alienígenas deixem de existir, queremos apenas marcar, também, a transição de uma interpretação simbólica e estilística (a da história da arte) para a interpretação denotativa que essas teorias implantam.

Em 14 de setembro de 2020, os telejornais anunciaram a descoberta de fosfina na atmosfera de Vênus, o que poderia evidenciar a presença de vida microbiana nesse planeta. O grande orçamento desse programa de televisão (Alienígenas do Passado, em português) talvez possa indicar ajuda governamental a ele. Talvez o governo norte-americano esteja investindo alguma quantia para criar uma mentalidade, nas comunidades que assistem a tal programa, no sentido de justificar programas espaciais caros que envolveriam sondas, viagens e estações espaciais. Pode-se dizer que a audiência desses programas, veiculados principalmente pelo canal por assinatura History Channel, e também pelo Discovery Channel, “respira” vida extraterrestre e, de fato, trata-se, no meu ver, da (re)criação de uma mentalidade que não é nova, mas se encontra intensificada nos dias atuais.

Assim como o militarismo foi historicamente difundido pela máquina midiática norte-americana, criando sentimentos “patrióticos” nos Estados Unidos e em seus países dependentes, as teorias ufológicas podem estar, inclusive, preparando o terreno ideológico para justificar investimentos na proteção da Terra, e dos Estados Unidos, contra supostamente possíveis ataques extraterrestres, e/ou contra asteroides que se ponham em rota de colisão com a Terra. Tudo é possível em se tratando de projeções realizadas por instâncias governamentais de um país hegemônico em termos internacionais.

A presente temática tem, inclusive, implicações militares terráqueas. Veja-se o programa norte-americano de defesa antimíssil da era Reagan apelidado de “Guerra nas Estrelas”, que poderia ser utilizado, certamente com algumas adaptações, para a proteção da Terra contra supostos ataques alienígenas, e/ou para manter a hegemonia dos Estados Unidos.

Essas teorias, também, remetem-nos a uma literatura de ficção científica em quadrinhos, ou, em pocket books, configurando uma estética pós-moderna, ou, uma (pseudo)ciência midiática pós-moderna.

1.1. A ARQUEOLOGIA UFOLÓGICA E O CONTEXTO POLÍTICO GLOBAL

Analisando os textos de Zecharia Sitchin sobre a Suméria, vemos que estes possuem, como metodologia, a comparação de textos dos épicos sumérios da Epopeia de Gilgamesh, do Enuma Elish e do Atra Hasis com textos bíblicos e com pesquisas arqueológicas.

Os textos de arqueologia ufológica semelham ser textos de ficção científica, como dito acima, onde as ciências que norteiam a ficção, ou supostamente dão ensejo às ilações ousadas ou extremas, são a arqueologia e a análise de textos bíblicos e de textos das culturas originárias em questão, etc. Tais textos sugerem-nos a união de ciência histórica com ficção futurista, repetindo.

Todos sabemos que o livro de Umberto Eco, O Nome da rosa (ECO, 2010) é um dos mais expressivos exemplos de literatura pós-modernista. Tal texto une erudição (alta cultura, com suas informações sobre um esboço do nascimento das ciências no fim da Idade Média) e cultura popular, com seu enredo “policial”, uma busca de um frade franciscano pelo(s) responsável(veis) por assassinatos num mosteiro do fim da Idade Média.

Em se tratando do livro Havia gigantes na Terra, de Zecharia Sitchin (SITCHIN, 2018) tal texto cria a ilusão de certeza científica, mesmo com lacunas no processo de prova das teses ali apresentadas. Possivelmente, essas lacunas permitem que se atinja um tipo de leitor que tem o desejo de que a influência dos alienígenas na criação do homem seja algo real, ou algo realmente ocorrido, o que sugere um estudo psicológico desse público.

Como é fácil ver, até mesmo antes de se ler o livro, não é um texto engajado, que buscaria analisar lutas de classes do presente e propor a vitória de uma classe sobre outra, no sentido marxista. No entanto, pode ser um texto iluminista e parece propor não uma fraternidade entre os homens, mas, uma fraternidade universal, coisa que parece estar implícita na maioria dos textos que analisamos até aqui. Ou, denunciar os desmandos tirânicos de entidades alienígenas sobre os terráqueos, à semelhança da imagem de Deus como o Ser irado que inflige os maiores castigos à humanidade, como se pode ver no Velho Testamento.

Muito embora seja um texto de cientificidade duvidosa, o livro Havia gigantes na Terra (doravante H.G.T.) é iluminista também na quantidade de informações que traz, contrariando a noção de Benjamin de “Narrativa”. É um texto de “Informação”, segundo o livro deste último autor “O Narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov” (BENJAMIN, 1987, 197-221).

Indo a possíveis motivações externas para a escrita e difusão deste tipo de texto, podemos perceber que uma nova corrida espacial está em curso. Desta vez, entre Estados Unidos e China. O pouso de um robô americano em Marte, seguido pelo pouso de um outro robô chinês no mesmo planeta (ambos recentes), é um forte indício dessa corrida. Talvez os livros de Sitchin tenham a função de angariar apoiadores, entre os leitores de tais livros, para essa corrida que conta, inclusive, com empresas privadas norte-americanas que buscam, inclusive, a criação de um turismo espacial.

É preciso verificar se os textos de Sitchin não configuram uma forma de ideologia contra-revolucionária, na medida em que colocam algumas supostas relações de dominação como algo que é fruto de um poder extraterrestre, portanto, invencível.

No entanto, na afirmação de Sitchin, suas teses evidenciariam uma possibilidade de conciliação entre ciência e religião, o que poderia ser interessante, não fossem as explanações pretensamente lógicas que Sitchin faz e que, como dito, não constituem um texto pleno de simbolismo e, antes, possuem um caráter informativo e apofântico (declarativo). Por apofântico entendemos:

APOFÂNTICO ([…], in. Apophantic, fr. Apophantique, ai. Apophantisch; it. Apofanticó). Declarativo ou revelativo. Aristóteles chamou de A. o enunciado que pode ser considerado verdadeiro ou falso e considerou que esse tipo de enunciado é o único objeto da lógica: da qual, portanto, são excluídas as orações, as ordens, etc, cujo estudo pertence à retórica ou à poética (De interpr., 4, 17 a 2). Esse significado permaneceu fixo no uso filosófico (ABBAGNANO, 2007, p. 73)

Muito embora, como veremos, tais textos naveguem numa área em que não se pode chegar a um julgamento sobre sua verdade. As análises de Sitchin e o texto da Bíblia são inconciliáveis. Como se pode acreditar num único Deus criador, no feitio em que a Bíbliao apresenta, se, nos textos de Sitchin, é exposta a criação do homem como obra de engenharia genética operada por mais de uma criatura, no caso, criaturas alienígenas?

A respeito da recepção dessas obras de arqueologia ufológica, imaginemos um leitor trabalhador, após dias tensos de um emprego, insípido ou não, e enclausurado num escritório, ávido por lazer, conhecimento e aventuras; este é um possível leitor dessas mesmas obras, que aliás, são best sellers, na maioria dos casos.

Nos dias atuais, quando uma crescente rivalidade entre Estados Unidos e China acontece, vimos anunciada em 27 de maio de 2021 uma investigação levada a cabo pelo recém eleito presidente norte-americano Joe Biden sobre a origem do vírus SarsCov-2, o Coronavírus. Biden e a CIA estão, neste momento, a empreender tal investigação que não descarta a origem chinesa de tal vírus. Recentemente, logo após o pouso em Marte do rover americano Perseverance, a China também pousou em Marte com seu robô Zhurong, ambos pesquisando possíveis indícios de vida em Marte. Ora, este cenário parece-nos ser ideal para que escritores de ficção científica alcancem o tal “leitor de após o expediente” e preparem o terreno para a justificativa de uma nova corrida espacial e os enormes investimentos demandados por ela, mesmo que parte dessa corrida venha a ser empreendida pela iniciativa privada americana, mas, havendo transferência de recursos estatais norte-americanos para as empresas privadas.

Ou seja, outro objetivo pode estar também ligado à suposta popularização de dispendiosas viagens espaciais: o de preparar as pessoas para revelações sobre Objetos Voadores Não-Identificados (OVNI’s ou UFOs, em inglês). No domingo, 23/05/2021, a revista eletrônica de variedades Fantástico, da Rede Globo de Televisão, anunciou que o governo norte-americano está assumindo a realidade de certos fenômenos que podem ter origem alienígena: os agora chamados Fenômenos Aéreos Não-Identificados. Tudo parece acontecer como se uma grande notícia fosse dada de forma bem gradual.

Uma possibilidade para tanto esforço “teórico”, e tanta verba utilizada na série de TV por assinatura Ancient Aliens (Alienígenas do Passado), pode ser a possibilidade de algumas raças alienígenas serem hostis à espécie humana, sendo assim tais eventos midiáticos uma preparação para o fato de que estamos em perigo potencial. Mas, estamos?

Mas, por outro lado, como há, nos canais de TV por assinatura, outros programas de orçamento vultoso, podemos dizer que a mera existência de audiência pode justificar tais investimentos. Se há tal audiência, então a coisa se confirma como cultura de massa. Ou seja, trata-se de uma questão de mentalidade, o que justifica este trabalho.

De qualquer forma, sendo uma manifestação do capitalismo no mínimo americano e/ou inglês, existe uma carga ideológica liberalista em tais manifestações videográficas. Dentro do círculo de práticas liberalistas há uma convergência dessas manifestações com o espírito do capitalismo em geral e, sendo as viagens espaciais no mundo capitalista também manifestações capitalistas, mesmo que meramente para afirmar a superioridade do bloco capitalista sobre o mundo socialista, durante a Guerra Fria; o conteúdo de tais vídeos vai laborar em prol das ondas de avanço tecnológico no rumo das conquistas espaciais.

Uma outra possível motivação para investimentos (governamentais?) na difusão de literatura sobre extraterrestres é a suposta intenção de certos governos em comunicar à população mundial o fato de que alienígenas podem estar entre nós, sendo que, segundo algumas teorias expressas no programa Alienígenas do passado (Ancient Aliens), tais seres poderiam estar atuando de comum acordo com governos de certas potências.

Voltando à relação entre a ciência de Sitchin e a religião, citaremos, parafraseando, a passagem do livro H.G.T., obtida através de leituras de tabuletas de argila sumérias. Ali a serpente do Paraíso é vista como o deus sumério Enki, ele mesmo um alienígena, segundo Sitchin; desta forma, como Enki foi o deus que alertou Noé do dilúvio e deu a este último as instruções para a construção de sua arca, segundo Sitchin, podemos concluir que na visão de Sitchin, a serpente é uma entidade boa, o que destoa totalmente das tradições judaico-cristãs. Vejamos:

Foram necessárias engenharias genéticas adicionais – até algumas cirurgias sob o efeito de anestesia (relatadas em um texto sumério e na Bíblia) – para moldar um correspondente feminino; mas como os híbridos, até os dias de hoje… (como uma mula, o produto “miscigenado” de um cavalo e um burro), eles não podiam procriar. Para fazer “cópias” do Modelo Perfeito do Lulu Amelu [Adão], era exigida a reprodução difícil e longa, feita por jovens “deusas do nascimento”. O próximo passo da engenharia genética – que permitia aos Lulus procriarem – foi empreendido por Enki, a “Serpente” na versão bíblica do Jardim do Éden (SITCHIN, 2018, p.155).

Ainda, na mesma página:

Como diz o conto bíblico, O Adão colocado nos pomares dos deuses, para cultivar e tratá-los, foi advertido por Deus (o termo hebraico é, na verdade, Yahweh Elohim) a não comer da Árvore do Conhecimento, “pois no dia em que comer dali, com certeza você morrerá”. Induzido a um sono profundo, O Adão é operado, e uma correspondente feminina é moldada a partir de sua costela. O Adão e “a mulher” (ela ainda não tem nome!) passeiam nus “e não têm vergonha” (SITCHIN, 2018, p. 155).

E mais:

A Serpente enganadora aborda agora a mulher falando da árvore proibida, e ela confirma o que Elohim disse. Mas “a Serpente disse à mulher: não, você não morrerá”. Então a mulher, vendo que o fruto da Árvore era comestível, “pegou o seu fruto e comeu, também ofereceu ao seu companheiro, e ele comeu”. E, de imediato, eles tomaram consciência de sua sexualidade; percebendo que estavam nus, fizeram aventais com a folha da figueira (SITCHIN, 2018, p. 155).

Também contraria a Bíblia a afirmação segundo a qual Deus, o Yahweh da Bíblia, é uma mistura de Enki e Elil, duas divindades sumérias, a última, irascível. Vejamos que enquanto Enki cria o homem, Enlil tenta destruí-lo:

As pessoas, de fato, multiplicavam-se tanto (o texto relata) [o Atra-Hasis] que “a terra urrava como um touro”. Enlil não estava feliz: o deus estava perturbado com aquela agitação”. Ele tornou seu desagrado célebre: “Enlil ouviu seus urros e disse aos grandes deuses: “O urro da Humanidade tornou-se muito intenso para mim; com a sua agitação, eu sou privado de sono”. Das linhas danificadas que se seguem, apenas as palavras de Enlil, “que haja uma praga”, são legíveis; mas sabemos pela narrativa paralela bíblica que “Yahweh arrependeu-se de ter colocado O Adão na Terra (…) e disse: Eu varrerei O Adão da face da Terra” (Gênesis 6:6-7) (SITCHIN, 2018, p. 157).

Essa mescla parece revelar uma postura de destruição, ou relativização, no mínimo, dos valores das religiões judaica e cristã, como dissemos, mas, com qual objetivo? Muito provavelmente, continuando o movimento histórico de desencantamento do mundo operado pelo Iluminismo e, antes deste, pelos criadores da ciência moderna: Galileu, Descartes, os empiristas e outros.

1.2. ROMANTISMO E ARQUEOLOGIA UFOLÓGICA

Na História da Arte, é principalmente na pintura romântica que percebemos incursões temáticas dos pintores rumo a outras terras e outras épocas. Delacroix pinta odaliscas (mulheres de harém, consumindo o que pode ser ópio), cenas de batalhas entre a Turquia e a Grécia, enquanto Ingres também pinta um um banho turco de harém, etc. Turner representa o ímpeto da tempestade envolvendo um barco a vapor, o amanhecer de Cartago, um navio negreiro atirando sua “carga” ao mar em meio a uma tempestade (muito embora isto tenha sido um fato social concreto), etc. Em suma é a aventura, o ímpeto, a estética do sublime, a guerra nacionalista e o “exótico” que movem os artistas dessa escola.

Podemos levantar a hipótese segundo a qual, na contemporaneidade, os livros de arqueologia ufológica têm um tipo de público com motivação semelhante: válvulas de escape, esses livros garantem os elementos de alívio das tensões atuais para o citadino que, inclusive, procura uma saída para os problemas contemporâneos, mas sem se valer do marxismo, a filosofia da práxis revolucionária, ou seja, leitores pequenos-burgueses. Isto ocorre na esteira da onda de esoterismo no Ocidente, que podemos rastrear até o século XIX, no mínimo, para não falarmos de alquimistas e outros místicos dos séculos XV, XVI, etc, mas nessa época não havia a separação entre práticas místicas e ciência positiva.

No nosso entender, mesmo o marxismo constitui uma filosofia romântica: o clamor pela igualdade de todos, a revolução como método de se alcançar tal liberdade, a descrição da miséria urbana de forma tocante, etc.

Vejamos o que dizem Adorno e Horkheimer sobre a fuga da difícil realidade por via da indústria cultural: “O amusement é o prolongamento do trabalho sob o capitalismo tardio. Ele é procurado pelos que querem se subtrair aos processos de trabalho mecanizado, para que estejam de novo em condições de afrontá-lo” (HORKHEIMER e ADORNO, 2000, p. 185).

Ainda: “É, de fato, fuga, mas não, como pretende, fuga da realidade perversa, mas sim do último grão de resistência que a realidade ainda pode haver deixado” (HORKHEIMER e ADORNO, 2000, p. 192). Assim sendo, ressalta-se o caráter de adequação do homem ao sistema econômico que o amusement proporcionado pela indústria cultural nos fornece.

Cremos que é esta uma das motivações para a procura de textos de arqueologia ufológica e outros produtos da indústria cultural para tal adequação social e política no máximo reformista. É claro que jovens que ainda não trabalham também procuram esses produtos, mas tais jovens respiram a atmosfera geral do que é inserido na mentalidade da sociedade, a pedagogia social da adequação, a competitividade de uma sociedade individualista, etc.

1.3. AS INTERPRETAÇÕES ESOTÉRICAS E UFOLÓGICAS SOBRE OBRAS DE ARTE E ARQUITETURA DA ANTIGUIDADE: UM FENÔMENO CULTURAL

1.3.1 TEORIAS PARA DEPOIS DO EXPEDIENTE: SOBRE O CARÁTER PÓS-MODERNISTA DOS TEXTOS DE “ARQUEOLOGIA UFOLÓGICA”

Os textos sobre aquilo que poderia ser chamado de “Arqueologia Ufológica” só teriam, no nosso ver, um caráter pós-modernista se constituírem um simulacro sem ligação indutiva direta, comprovável, com seus referentes que seriam as obras de arte e arquitetura antigas e textos míticos das civilizações contempladas. Para fazermos tal verificação seria necessária uma abordagem da metodologia de trabalho contida nessas “pesquisas”, conforme abaixo. Mesmo sem falarmos de alienígenas, as obras de arte mantêm uma relação problemática com os textos que as contemplam, valendo quase sempre uma hermenêutica que reflete sobre tais obras.

Nos textos dessa arqueologia fantástica há induções fantasiosas e deduções a partir destas. Repetindo, um exemplo simplificado: se uma figura humana aparece com um adorno de cabeça semelhante a um capacete de astronauta, imediatamente este adorno é visto realmente como um capacete de astronauta. Parece-nos que os autores agem com algo semelhante à Navalha de Ockham: se uma teoria mais simples funciona como explicação de um Objeto (na semiótica de Peirce) de estudo, um referente, então, será usada tal teoria mais simples e “direta”.

Tal caráter direto das hipóteses sobre os objetos de estudo é tão impressionante que ficamos a perguntar: mas é só isto que está em jogo, apenas o caráter icônico das semelhanças entre a representação e um Objeto referente dado (no caso, visitas extraterrestres)? É claro que o presente trabalho é sobre História da Arte, pelo menos sobre uma dada versão das metodologias e dos resultados desse ramo da história que são ou muito revolucionários, como seus autores alegam, ou simulacros em uma cultura pós-modernista, mais uma vez.

Mais um exemplo metodológico: no campo da arquitetura, se um ou mais blocos de pedra é pesado demais para ser extraído e transportado para o sítio em que se localiza determinada construção, ou se o suposto metal de que as ferramentas são feitas é mole demais para cortar granito ou diorito, por exemplo, logo se atribui a construção de tal obra de arquitetura a alienígenas, o mesmo valendo para monumentos megalíticos com poucas pedras (como dólmens, menires) e cromlechs. Isto é notório em Erich von Däniken.

Tanto Zecharia Sitchin como Chris Hardy e von Däniken operam com uma pesquisa de escritos contendo mitos, lendas, calendários, etc. para embasar suas leituras visuais. É assim que chegaram à tese, impressionante, no caso de Sitchin, segundo a qual alienígenas, vindos de um suposto planeta de suposto nome Nibiru, teriam usado engenharia genética para criar um hominídeo que seria o elo perdido, o primeiro homo sapiens existente na Terra. Para a construção de tal tese, como dissemos, leituras de partida são feitas (de textos sumérios, egípcios, maias e outros).

Interessante seria vermos qual o público alvo dessas publicações, e talvez se possa inferir que sejam pessoas com um encanto romântico por aventura e explorações, realizando tal desejo em horários outros que não suas horas de trabalho. Aliás, a arqueologia parece ter uma tradição relativamente antiga de pesquisadores amadores, remontando, talvez, ao século XVIII, pelo menos, época de Winckelmann, notório historiador da arte e arqueólogo amador.

Estes textos também operam a laicização de diversas tradições religiosas na medida em que atribuem origens práticas a tais tradições. Nada mais linear, no sentido de causalidade linear, do que as relações de causa e consequência implicadas em tais leituras, veja-se o exemplo da própria origem do homem, proposta pelos textos, a partir de engenharia genética feita por alienígenas a partir de genes também alienígenas e de genes de hominídeos primitivos aqui da Terra, como já exposto. Trocam-se as origens míticas e místicas veladas, em textos sagrados, por relações causais, como dito, o que anula o mistério de tais origens, em todas as religiões do globo.

Resta apenas, para a religião que prega a ação de Deus, a proposição lógica, em Tomás de Aquino, por exemplo, da conceituação de Deus como causa incausada, pois se os alienígenas promoveram o surgimento do homo sapiens sapiens, quem criou os alienígenas? E assim podemos regredir ad infinitum.

Percebe-se que é um método que possui um arrasamento da interpretação mística nos moldes de um tipo de positivismo, em sentido lato, pelo menos, ou, um cientificismo. O produto das especulações, o texto, não nos leva a uma situação de maravilhamento e de reverência a mistérios, embora ainda se possa respeitar o mistério da criação originária, posto, como foi dito, ainda não se saber qual a origem primeira dos próprios extraterrestres. A ideia de milagre também se ofusca, como no caso das aparições de Fátima, em Portugal, em 1917, conforme exposto por Däniken em seu livro Os Deuses eram astronautas (DÄNIKEN, 2018, p. 65-106).

Outro exemplo de fruto do “método” usado por Erich von Daniken, com seu aspecto analógico-icônico (aqui icônico no sentido de Peirce), é que se na mitologia de uma comunidade antiga aparece a figura de um pássaro com cauda de fogo, essa figura vai ser interpretada como uma nave espacial com motores em cuja “descarga” há um jato incandescente.

1.3.2. NO ENTANTO, IRONICAMENTE, HÁ EVIDÊNCIAS DE QUE TAL ARQUEOLOGIA PODE ESTAR CORRETA

Existem algumas evidências de que tal ufologia comparativa possa estar correta, como interpretação dos fatos de linguagem. Registros visuais de crânios alongados fogem de estilemas (elementos de estilo, grosso modo) mais comuns, com um desvio que nos surpreende pela sua existência em culturas diversas, distantes umas das outras e essa atribuição vem de autores de linha mais próxima daquela de Erich Von Däniken, mais visual, icônica como dissemos.

Os indivíduos que os possuíram tais crânios (ou os possuem?) são tidos como alienígenas, que poderiam estar “vivos” até hoje, segundo as ilações do programa de TV, e visto que não sabemos a duração da vida em outros mundos ou dimensões, se ela existir.

O estilema do crânio alongado, presente pelo menos nos adornos de cabeça de Akhenaton, de sua esposa Nefertite e em representações de Tutankhamon, faraós e rainha no Novo Império no Egito antigo, são por demais incomuns (ou seja, são estilemas tão originais) que sua ocorrência em outros povos nos parece mesmo ser devida a algum agente, ou fator, externo unificador: a anatomia dos supostos alienígenas. l. Como podem culturas tão diversas terem a mesma representação de coroas, ou mesmo de crânios, alongados de tal forma? As migrações podem explicar isso (como veremos no capítulo 2). Além do aspecto de multiverso de supostos viajantes interdimensionais como donos dos crânios alongados, conforme dito acima, há casos em que foram encontrados crânios de pessoas reais, deste mundo, alongados da mesma forma. Vejamos as figuras com exemplos:

Fig. 1 – O crânio alongado de Tutankhamon (Novo Império egípcio – 1580 a.C. – 525 a.C.) Fonte: https://ensinarhistoria.com.br/tutancamon-a-tumba-do-antigo-egito-que-ainda-fascina-o-mundo/ acesso em 03/04/2023

Fig. 2 – crânios de Paracas, Peru (700 a.C.–200 d.C).

Fonte: https://ensinarhistoria.com.br/paracas-polemica-dos-cranios-alongados/ acesso em 03/04/2023

Na Fig. 3 – Crânios alongados gradativamente desde tenra infância (povo Mangbetu, Congo, África, até pelo menos1950)

Fonte: https://vivimetaliun.wordpress.com/2016/01/18/o-cranio-alongado-do-povo-mangbetu/

No fundo, o que os “teóricos dos antigos astronautas” fazem é estudar estilemas nas imagens que, segundo eles, poderiam ser ligadas à presença de alienígenas na Terra e à sua provável influência sobre culturas originárias.

Mas há também um estudo funcional de certas formas, como, de certa forma, a obsessão por plataformas de lançamento. Sem que possamos dizer que isso ocorre com todos os achados arqueológicos nesse sentido, podemos dizer que, onde há uma laje de pedra elevada que se atinge por degraus ou por outras plataformas maiores sob tal laje, isso é interpretado como uma plataforma de lançamento de naves espaciais, como foi dito. Isso nos parece um salto lógico de mais difícil aceitação. Mas tais construções são feitas de pedra. Por que uma cultura alienígena avançada não construiria uma plataforma de lançamento feita com um material mais moderno, como aço ou outra liga? É o que perguntamos.

1.4. MAIS UM VEZ, O PÓS-MODERNISMO             

Em relação ao livro O Rei que se recusava a morrer (SITCHIN, 2014), uma obra de ficção de Zecharia Sitchin, torna-se fácil num certo sentido, cremos, transportar as ideias da Epopeia de Gilgamesh para um texto de prosa ficcional, já que ambos são fabulações. Um texto ficcional contemporâneo e um texto mítico guardam uma relação com o real de certa forma similar, pela estrutura “poética”, mesmo em forma de prosa. A expressão “poética”, aqui, tomada no sentido aristotélico de engendramento de um corpo textual, um grande signo, grosso modo, que se mantém tendo como referente a substância de sentido aberto do símbolo, no sentido que Goethe atribuiu a tal expressão, como já dissemos.

Como o pós-modernismo se caracteriza como ausência de fundamento de verdade na ciência e proliferação do simulacro em relação a qualquer essência a que corresponderiam fatos e/ou coisas “verdadeiras” em ciência, podemos caracterizar a ciência de Sitchin como um grande simulacro pós-modernista, e seu texto ficcional-didático (pois labora em prol da divulgação científica de sua pesquisa) torna-se apoio de sua ciência, com efeito, inclusive, mercadológico.

No entanto, a teoria de Zecharia Sitchin é estabelecida pelo autor como expressão da verdade. Suas explicações sobre a origem da Terra e dos homens não é posta como hipótese. Isto não acontece com Erick von Daniken, pelo menos no seu Eram os deuses astronautas? Onde ele afirma que o próprio conceito de verdade religiosa (a crença em escrituras ou teólogos como fonte da verdade) é algo questionável. Mas Däniken não fala em verdade científica (DÄNIKEN, 2010, p. 71).

Mas, na lógica do texto, von Däniken é impecável. No entanto, um belo edifício lógico pode ser construído sobre terreno pantanoso. E toda escritura lógica é assim, geralmente assenta-se sobre axiomas. A consciência disso é a consciência pós-moderna.

Já na obra de Peirce notamos uma descontinuidade assintótica entre o Representâmen do Signo e seu Objeto. Podemos, grosso modo, definir o Representâmen como a parte material do signo (mesmo se desmaterializado em forma de palavra, por exemplo) que aparece para o intérprete. O próprio conceito de força em Newton tem algo de axiomático: no fundo, percebemos a força pelos seus efeitos e daí Newton propôs o “vetor”.

Esta discussão está presente em exposição de Gianni Vattimo sobre obras de Heidegger e no próprio pensamento de Vattimo em O Fim da modernidade: niilismo e hermenêutica na cultura pós-moderna (VATTIMO, 1996).

Na caracterização de Sitchin dos deuses sumérios, e na própria mitologia suméria citada por ele, o bem e o mal parecem ser faces da mesma moeda. Os deuses, ou astronautas, sumérios ou seres do fantástico planeta Nibiru, possuem qualidades e defeitos, têm em si o bem e o mal, repetindo, opostos complementares. São deuses antropomórficos.

A chave da metodologia dos analistas do programa Alienígenas do Passado é a comparação intercultural de representações de símbolos presentes nas peças materiais analisadas. E os paralelos encontrados não são vistos como resultado de inconsciente coletivo (Jung), conforme já dito.

A crítica à história operada pelos autores de Arqueologia Ufológica não coloca para o público uma atitude crítica em relação à história que leve a uma emancipação deste público em termos sociais, políticos e econômicos nos termos da crítica de Umberto Eco (em seu Apocalípticos e integrados).  Trata-se de midcult, cultura de massa mediana que simplifica e difunde códigos semióticos da alta cultura, as técnicas e resultados desse tipo de Arqueologia, para as classes de humilde inserção social do mercado da cultura de massa (ECO, 2015, p. 85).

Como foi dito, em outra parte deste texto, acerca do caráter positivista ou apofântico das interpretações da arqueologia ufológica, tais leituras promovem a diluição dos significados simbólicos, ou mesmo da estrutura sintática – esta última nos levando certas articulações de sentido -, das obras de arte e arquitetura lidas. Ocorre aí um arrasamento da dimensão simbólica, que passaria a ser puramente referencial, de acordo com Umberto Eco (ECO, 2015, p. 85). Isso nos leva à estética kitsch.

1.5. MAIS SOBRE A IDEOLOGIA DA ARQUEOLOGIA UFOLÓGICA

A ideologia dos Alienígenas do Passado é a mesma ideologia do sonho americano, da aplicação de métodos positivistas à compreensão do passado. Neste sentido, tudo ocorre como se a sociedade americana estivesse no século XVIII ou XIX, épocas de aventuras exploratórias e de um segundo colonialismo, visto o primeiro, o da Idade Moderna, ter ocorrido com as navegações portuguesas e espanholas, além de outras nações nos séculos do absolutismo. É a ideologia do americano “médio”, conforme se constata nos conteúdos de canais de “história” de TV por assinatura norte-americanos, entre eles o próprio History Channel.

Abraham Moles, em seu Rumos de uma cultura tecnológica (MOLES, 1973, p. 58), fala-nos de uma função educativa de adultos exercida por um micromeio de intelectuais que alimentam os mass media com determinados conteúdos a serem difundidos num tecido social. Assim, surge-nos a hipótese  segundo  a qual os conteúdos da Arqueologia Ufológica estão sendo disseminados na cultura de massa com o fito de preparar as pessoas para a suposta realidade dos avistamentos de OVNI’s, para a necessidade humana de colonização de outros corpos celestes, ou coisas do gênero. O que não deixa de ser um sistema de hegemonia cultural e ideológica. Ou, para o estabelecimento dos Estados Unidos como poder máximo não só na pesquisa espacial, mas também em toda tecnologia, mais uma vez dizemos.

Perguntamos: qual é a estrutura do sistema comunicativo das obras de Arquelogia Ufológica, segundo a classificação de Abraham Moles, importante teórico da informação, comunicação e estética? Cremos que seja de tipo predominantemente sociodinâmico (MOLES, 1973, p. 60-61), grosso modo, uma distribuição de conteúdos por um micromeio, os autores e editores das obras, a certa camada do público, sendo este último estruturado de acordo com faixas mais ou menos estanques em termos culturais e/ou econômicos. Este tipo de ação midiática, neste caso, implica uma ação aceleradora da sociedade, já que tenta promover o porvir dos fatos culturais, ou seja, uma suposta evolução na consideração de seres alienígenas. Um salto conceitual. Mas outras categorias de ação midiática também estão presentes.

A categoria demagógica de ação dos mass media também está presente. Esta categoria caracteriza-se pela disseminação para todas as camadas da população de mensagens com o mesmo nível cultural, um nível fácil que procura ir ao encontro da compreensão do público. Tal categoria está presente nas mensagens do programa Alienígenas do Passado, e da litetatura correspondente, na ação de vender a todos os membros da coletividade atingida pelos mass midia a validade de se manterem os investimentos em viagens espaciais, mesmo que privados (com algum repasse de verbas estatais), frisando. Vende também as marcas das empresas que empreendem nesse ramo, aeroespacial (MOLES, 1973, p. 58).

Outra categoria de Moles presente no esquema conunicativo dos Alienígenas do Passado é a dogmática (MOLES, 1973, p. 58-59). Segundo Moles, esta categoria caracteriza-se pela disseminação das mesmas mensagens, no tecido social, em todas as suas camadas, mas, levando um, ou mais, conteúdo(s) doutrinário(s), seja, neste caso, a doutrina das visitas à Terra, no passado, de seres que seriam, de acordo com tal doutrina, a verdadeira identidade dos deuses, anjos, etc, contrariando doutrinas religiosas existentes, muito embora a existência de Deus não seja questionada no programa de televisão em questão e na literatura correlata, visto que se os seres alienígenas criaram o homem na Terra a partir de manipulação genética (tese de Zecharia Sitchin) (SITCHIN, 2018, 326-341), podemos perguntar sobre quem criou tais alienígenas, e assim ad infinitum, até que chegamos a Deus, em tese.

A categoria culturalista de Moles caracteriza-se pela disseminação de mensagens culturalmente relevantes, de um nível cultural mais refinado, nos padrões ocidentais, digamos, para todas as camadas da população. Muito provavelmente, este é o modo das rádios e TV’s  de “cultura”, modelo cuja existência se constata no Brasil, com força maior ou menor, de acordo com o período histórico (MOLES, 1973, p. 59-60).

Uma outra categoria de Moles para as políticas culturais é a categoria piramidal onde as mensagens são distribuídas pelas camadas culturais da sociedade de acordo com o teor dessas mensagens (MOLES, 1973, p. 59).

A internet e o grande número de canais de TV a cabo e abertos seriam meios em que se implanta a cultura mosaica na sociedade. Por cultura mosaica entendemos a estrutura cultural onde:

[…] os modos de comunicação de massa (imprensa, rádio e televisão sobretudo) constituem o elo entre esta sociedade intelectual e a massa do campo social. Todas as expressões recebidas no campo social são heteróclitas, dissociadas, frequentemente contraditórias; elas é que irão fixar-se ao acaso no cérebro dos indivíduos, servindo-lhes como tela de referência de cultura (MOLES, 1973, p. 51).

Ainda:

[…] não há mais nem ponto de orientação nem rede para ordenar nem estrada real; só probabilidades, elementos mais frequentes do que outros, fragmentos de conhecimentos, resultados sem base e ideias gerais sem aplicação, palavras-chave e pontos altos na paisagem cultural. Esta a civilização em que vivemos (MOLES, 1973, p. 51).

As modalidades de disseminação da cultura, de Moles, citadas acima são, no fundo, tentativas de se dar alguma unidade ao mobiliário cultural do expectador, do membro da sociedade, nos sentidos ideológicos já citados.

Por mobiliário cultural na mente de um indivíduo entendemos o conjunto de “ítens” culturais, todo o “aparato” informacional à disposição desse indivíduo enquanto background cultural (MOLES, 1974, p. 22).

Podemos estudar o sistema comunicativo possível das obras de Arqueologia Ufológica e perceber qual é a estrutura da mesma. Mas, qual a utilidade de se estudar esta árvore de distribuição de mensagens? O ideal é que tenhamos acesso ao feedback que o público consumidor envia aos indivíduos criadores. Poderíamos estruturar uma pesquisa de campo para analisar tal ponto, porém, melhor seria obtermos dos criadores o que eles recebem de seu público e qual a resposta que eles (os criadores) dão a partir dessas informações.

Mas podemos procurar, também, estabelecer a estrutura típica dos grupos sociais do público que recebe tais mensagens: o grupo de fãs que pode ser separado a partir das comunidades ufológicas de estudantes, por exemplo, e aí identificar características pós-modernas como um (neo)romantismo escapista e outras.

Há, sem dúvida, uma “função” sensacionalista da Arqueologia Ufológica e, também, poder-se-ia talvez constatar uma atividade de aculturação exercida pela arqueologia ufológica sobre o meio cultural dos países sob o império americano.

Podemos ver os textos de Arqueologia Ufológica como um objeto, no sentido de Abraham Moles (MOLES, 2019), ou conjunto estruturado de objetos, kitsch, conforme já dito, que se insere desta forma específica nas camadas sociais de certo ambiente populacional. Podendo tal estrutura receber um recorte que isole uma de suas partes do restante do tecido informacional/social.

Um público-alvo possível das mensagens de Arqueologia Ufológica, intuímos, é o de esotéricos pacifistas, dentro do qual o subgrupo “maçons” parece estar inserido. A editora Madras, que publica no Brail as obras de Zecharia Sitchin é maçônica; Dizemos “parece” porque, em tese, podem haver maçons não pacifistas.

Abraham Moles levanta a “possibilidade”, ou talvez o fato, de potências externas influenciarem um país menos desenvolvido através de ações culturais, ou aculturadoras, distribuídas na cultura de massa de tal país menos desenvolvido. Para nós, isso é fato.

Com tanta pretensão de cientificidade das teorias da Arqueologia Ufológica, e com o caráter apofântico de sua metodologia (descrições) podemos dizer também que não se trata de teoria pós-moderna, e sim, teoria que se propõe como portadora de verdade científica, pondo-se na arena das disputas com outras visões dos fenômenos observados. Mas, tal arena, entre teorias antagônicas, pela convivência simultânea entre tais teorias pode configurar uma situação pós-moderna.

Em termos da dualidade quantificação versus qualificação, podemos quantificar a dispersão social das mensagens e qualificar o efeito produzido por estas em cada observador (em tese), ou num dado grupo deles.

Após as leituras dos argumentos de von Däniken, podemos afirmar que suas teorias são bem verossímeis. Mas o verossímil não é o verdadeiro e poderíamos estar diante de uma nova revolução copernicana, no que tange à compreensão do homem no mundo e ao seu conceito de tecnologia e cosmologia. É o que Daniken diz em De Volta às estrelas (DÄNIKEN, 1971, p. 15-24). Sua hipótese sobre a criação da mulher, neste mesmo livro, e sobre as esculturas das Vênus paleolíticas é até compreensível: a primeira mulher teria sido criada através da manipulação genética da medula óssea de um “Adão” gerando o fato de as esculturas das Vênus paleolíticas surgirem de repente em alguns lugares do mundo. No entanto, ao contrário do que diz Däniken, nós sabemos sua finalidade, qual seja, a de amuleto propiciatório da fertilidade (DÄNIKEN, 1971, p. 39-40).

Interessante é perguntarmos qual o tipo de público que “consome” este tipo de informação. Adolescentes e jovens curiosos e envolvidos num objetivo, talvez algumas vezes inconsciente, de descoberta do mundo? Estudantes de cursos técnicos ou superiores em tecnologia, escolhidos a dedo em processos de seleçao? Esotéricos dos mais variados feitios? Uma outra afirmação que podemos fazer é que os textos da arqueologia ufológica são produzidos apenas para venda e lucro, aproveitando-se da tendência mundial que deve ser estudada.

Para darmos um exemplo do pensamento “pragmático” (não confundamos com o pragmatismo de William James e Charles S. Peirce) dos Alienígenas do Passado, o livro Arte pré-histórica e primitiva, da coleção O Mundo da arte, da Enciclopédia Barsa, nos fala dos crânios montados sobre representações escultóricas do corpo humano (na Birmânia Superior, entre os Nagas, com surgimento na China Meridional, em Bornéu e Nova Guiné) (LOMMEL, [s.d.]., p. 122 – 124) e podemos relacionar tais figuras aos crânios cobertos de gesso enterrados próximos à Jericó neolítica (https://pt.khanacademy.org/humanities/prehistoric-art/neolithicart/neolithic-sites/a/jericho acesso em 23/05/2023). Mas isso indica que alienígenas estavam, ou estão, presentes em ambos os sítios, e que tais crânios são de seres alienígenas? Ao que tudo indica, pelo menos para o programa de televisão, a resposta para esta pergunta é afirmativa. Mas, há outras questões que põem em dúvida o argumento alienígena, no mundo da Arqueologia. Vejamos.

No livro As Pistas de Nazca, a autora, Simone Waisbard, também coloca as viagens da Índia e Polinésia até o Peru como formas de expansão de ítens culturais e artísticos, o que, em tese, anula a hipótese de surgimento nessas duas regiões de manifestações de arte e arquitetura com alguma similaridade, devido à ação alienígena.

Em As Pistas de Nazca, Simone Waisbard afirma também que as linhas de Nazca no Peru poderiam ter sido orientadas por alguém voando sobre o solo em uma pipa (papagaio) (WAISBARD, 1980, p. 81-91). Esta última suposição cai por terra quando perguntamos: como o navegante deste papagaio passava as informações direcionais para os membros da tribo em terra fazerem os desenhos gigantescos em Nazca. Através de gestos?

Simone Waisbard deixa em aberto, como lenda ou realidade a possibilidade (para Waisbard) de um pássaro, chamado pilco, realmente carregar no bico uma erva que amolece pedras e que teria possibilitado aos incas a modelagem de rochas nas altas terras andinas (WAISBARD, 1980, p. 174-176). Waisbard afirma ainda que os imensos geoglifos de Nazca podiam ter sido tentativas de comunicação dos nazcas com os deuses no céu. Mas, e se tais deuses forem alienígenas?

Waisbard, no mesmo livro, alega que, da mesma forma em que o laboratório espacial Skylab não pode fotografar os traçados de Nazca a partir do espaço exterior, uma nave alienígena não poderia. Mas e se essa suposta nave se aproximasse da Terra e planasse sobre esta numa altura mediana? (WAISBARD, 1980, p. 219-221).

Em outra explicação para o fenômeno Nazca, Simone Waisbard cita o estudioso Rossel Castro, que afirma poderem os desenhos de discos encontrados em Nazca ser efeitos, marcas, de treinamento de cavalos ao redor de um mastro central (WAISBARD, 1980, p. 223-224).

No livro A Civilização dos megálitos, o autor, Marc Orens, oferece-nos uma explicação para o erguimento de dólmens com pedras muito pesadas. Para ele, não há necessidade de levitação, nem da ação de seres extraterrestres, ou de seres superiores vindos da Atlântida, ou do “império de Mu”. Para Orens, a maioria dos dólmes foi construída sem dificuldade, pois é composta de blocos modestos, que não ultrapassam os 50 cm de espessura, com as outras dimensões tendo uma média de 3 por 2 metros. Tal trabalho não exigiria esforços extremos, estando ao alcance de uma pequena tribo. Segundo o autor, a vontade e a importância da homenagem ao herói morto seriam os motores psicológicos destes homens para conseguirem tais façanhas e, ainda, se os egípcios do segundo milênio transportavam massas de 500 e até 1000 toneladas, é de se supor que os homens do neolítico também pudessem fazê-lo com massas de 50 a 100 toneladas. O autor traça um esquema de corte de pedras, arraste por trenós ou troncos rolantes e elevação das pedras por rampas que poderia ter sido usado pelos homens neolíticos. No entanto, o autor nada fala sobre a o transporte e a colocação de pedras de mais de 100 toneladas, como a mesa do dólmen de Bournand (110 t), o menir de Kerloas (mais de 150 t), uma laje da aléia coberta de Antiquera (mais de 320 t) ou o grande menir de Locquemariaquer (382 t) (ORENS, 1978, p. 205-215).

As teorias das migrações em todo o mundo podem enfraquecer o conceito de alienígenas descendo do espaço e trazendo desenvolvimentos, como as técnicas de produção de obras de arte e de arquitetura, para os terráqueos. Mas, fica a pergunta: como tudo começou na Terra, na humanidade?

É interessante constatarmos como os arqueólogos-ufólogos, até pelo aspecto controverso de suas teorias, posicionam-se contra a arqueologia “acadêmica” levantando libelos contra a mesma. Isso está presente logo à primeira vista na leitura dessas obras e sintetiza-se bem na obra de Pedro Guirao O Enigma de Teotihuacan (GUIRAO, 1984, p. 123-140). Isso constitui uma espécie de negacionismo em relação a parte da ciência “convencional”, que pode levar tanto ao riso como à fé cega os leitores/público de tais teorias.

Qual a razão desse grande desprezo? Existe uma revolta contra a academia? Um ressentimento ou inveja dos postos ocupados por acadêmicos nas instituições de ensino e, ampliando, no domínio dos canais de transmissão de conhecimentos? O ataque à tese evolucionista de Darwin constitui-se, na obra de Pedro Guirao, em afirmar a possibilidade do homem ter vindo do espaço sideral, ou ter sido criado por seres alienígenas, tendo o homem involuído para a condição de símio várias vezes e várias vezes evoluído (ou recriado?) para a condição de homo sapiens. A involução dar-se-ia por cataclismas ou talvez por uma degeneração dos costumes (GUIRAO, 1984, p. 135-139).

Voltamos à questão, essas teorias podem ser incluídas simplesmente naquilo que hoje chamamos de fake news? Não há uma tendência geral a se desconfiar da ciência oficial, mostrando um carater pós-moderno onde a convivência de diversas opiniões é possível? Por enquanto, fica a pergunta.

2. HISTÓRIAS FANTÁSTICAS DE MIGRAÇÕES COMO REFUTAÇÃO DA TESE UFOLOGICA

Em seu livro O Processo civilizatório, Darcy Ribeiro nos dá a cronologia do surgimento de “[…] cidades-estados, que inauguram a vida plenamente urbana, com base na agricultura de regadio e em sistemas socioeconômicos coletivistas […]” (RIBEIRO, 2000, p. 56) em diversas partes do mundo. Assim, esses modelos teriam surgido primeiro na Mesopotâmia, depois teriam ido ao Egito e depois à Índia, para citar as três primeiras regiões. A cronologia seria: “Antes de 4.000 a.C. na Mesopotâmia (Halat); entre 4.000 e 3.000 a. C. no Egito (Mênfis, Tebas); na Índia (Mohenjo-Daro) por volta de 2.800 a.C.; antes de 2.000 a.C. na China (Yangshao, Hsia) […]”. Assim, perguntamos se esse modelo foi exportado via migrações ou se surgiu de forma autônoma nessas diferentes regiões, devido a terem a mesma configuração de produção? A segunda opção, dentro do pensamento marxista, parece-nos viável.

Nas Américas, a cronologia seria: “[…] no Altiplano Andino (Salimar e Galinazo, 700 a.C., e Mochica, 200 E.C.); na Meso-América (Uxmal, 300 E.C.); na Colômbia (Chibcha, 1000 E.C. […] (RIBEIRO, 2000, p. 56-57).

Ribeiro nos mostra também as cronologias de surgimento de “estados rurais artesanais, de organização privatista”, e da expansão de “formações pastoris arcaicas” dando lugar a “chefias pastoris nômades” (RIBEIRO, 2000, p. 57). Essas três formações socioeconômicas surgem devido à Revolução Urbana.

Dentro primeiro tipo de formação, a do Khmer (500 a.C.) surge depois desse modelo surgir no Altiplano Andino, em Salimar e Galinazo (700 a.C.).

Mesmo com a hipótese do surgimento autônomo, passaremos em revista algumas teorias que colocam a questão das migrações como causa de certos fatores superestruturais, tais teorias indo de encontro à tese alienígena.

2.1. UM EMARANHADO DE ROTAS MIGRATÓRIAS

A grande Pirâmide do Sol e outras no mesmo formato podem ser o correspondente nas Américas das formas das coberturas dos templos indianos, os vimanas, por sua vez comparadas às formas das máquinas voadoras do hinduísmo antigo, tendo o mesmo nome, inclusive. Mercúrio líquido foi encontrado no subsolo desta pirâmide. Mercúrio usado para o funcionamento de tais naves, conforme descrito no livro Vimanika Shastra, um clássico do hinduísmo (BHARADWAAJA in CHILDRESS, 2003, p. 87-269). Qual a razão dessa similaridade? O programa Alienígenas do passado, nisso vê uma razão de presença extraterrestre nas duas regiões. Aqui se trata de uma relação entre duas formas arquitetônicas,  presença do mercúrio no subsolo de uma delas e um texto sagrado hindu.

Pedro Guirao nos diz que é “precisamente a religião o que parece confirmar a comunicação daqueles antigos povos: Egito, Tibet (China, Índia, Campuchea [Camboja]), Peru, Brasil e México”. Se foi omitida a África, nos diz Guirao, é porque esta seria o berço do animismo (GUIRAO, 1984, p. 93-94). Não confundamos religiões estruturadas com figuras de deuses com crenças animistas. Mas entre os indígenas das américas também há animismo. Uma imprecisão na afirmação de Guirao.

Por outro lado, as cabeças gigantescas da civilização Khmer e as cabeças olmecas têm traços de similaridade estilística (segundo se pode constatar pela simples observação de suas características) e métodos de trabalho escultórico que parecem ser praticamente idênticos, muito embora, as cabeças Khmer tenham sido esculpidas em partes e montadas no templo de Angkor Wat. As cabeças de Angkor, e o templo como um todo são muito mais recentes. Vejamos as figuras 4 e 5:

cabeca olmec-9233717Fig. 4 –  Escultura Olmeca

siam-reap-cambodia-september-th-image-angkor-wat-complex-temple-bayon-head-faces-made-stone-200704929  Fig. 5 – Escultura Khmer

Há uma hipótese de Paul Rivet, endossada por Andreas Lommel, segundo a qual houve migrações, saindo da Austrália até as Américas (e também até o continente asiático, tendo sido encontradas pistas de sua presença na Índia – em Mohenjo Daro por volta de 2500 a. C. -, e em outros sítios da Ásia), também da Melanésia até as Américas (RIVET, 1960, p. 85-116). Em relação aos melanésios, Rivet chega a falar de uma presença negra nas Américas, além da presença melanésica, e que, “em conjunto, a absorção de elementos melanésicos e a uniformização exterior das tribos indianas [indígenas, é que supomos], estavam já realizadas desde quatro séculos (RIVET, 1960, p. 112-113). O autor chega a falar na “arqueologia  de Monte Albá, no Estado de Oaxaca, de Três Zapotes e La Venta, nos Estados de Vera Cruz e de Tabasco (México)” como exemplos da presença negra nas Américas (RIVET, 1960, p. 112). Ora, é em Três Zapotes e La Venta que se situa a estatuária Olmeca. O autor fala também da estatuária de San Augustin (Colômbia) como fornecedora de “representações negroides caracterizadas” (RIVET, 1960, p. 112). Isso antes da introdução do negro nas América, pelos europeus. Então, perguntamos: pode ter havido viagens no sentido inverso?  Já que de um intercâmbio entre Américas e Oceania poderia ser formada certa unificação em estilos artísticos e em formas de pensamento, negando a tese da Arqueologia Ufológica.

Andreas Lommel, em seu Arte pré-histórica e primitiva, diz-nos:

A construção de barcos e a navegação em jangadas devem ter alcançado alto nível entre os povos que viviam às margens do Pacífico, já no período neolítico. Pesquisas quanto ao povoamento das ilhas da Oceani, provam que , na primeira metade do período Han (dois últimos séculos antes de Cristo), era possível navegar da Ásia aos arquipélagos orientais da Polinésia, e não há razão para que não se tivesse continuado a viagem até a América […] (LOMMEL, [s.d.], p. 139).

Ainda:

[…] Toda a costa ocidental da América era sensível a influências que emanavam da Ásia, através do estreito de Bering ou do Pacífico, já no primeiro milênio antes de Cristo. É curioso, porém, que alguns conhecimentos utilíssimos pareçam ter-se extraviado no caminho. O desaparecimento da roda – inclusive a do oleiro – é surpreendente. É difícil imaginar como invenções assim possam ter sido esquecidas, mesmo no decurso de uma migração que durasse várias gerações (LOMMEL, [s.d.], p. 139).

Falando em visões de mundo, um traço em comum entre o pensamento indiano e o pre-colombiano é o dualismo, segundo o video El Alma de Mexico 01: Amanecer en Mesoamerica. Na Índia, vemos, na religião hindu e budista, pares de contrários em oposição complementar. Igualmente, vemos semelhança entre cabeças e máscaras olmecas e representações faciais da arte chinesa antiga, inclusive com traços fisionômicos tipicamente orientais. Além dos que são traços da raça negra, como foi referido por Paul Rivet, supracitado.

Veja-se: https://www.youtube.com/watch?v=nXByzO5Dcik&t=42s

Na introdução II de Eram os deuses astronautas? de Erich von Däniken o professor Flávio A. Pereira, citando o livro de 1968 do escritor russo Alexandre Gorbovsky, nos fala acerca da presença de raízes sânscritas em palavras da civilização Inca (PEREIRA apud DÄNIKEN, 2010, p. 8). Já em A Erva do diabo, de Carlos Castañeda, o índigena Dom Juan afirma a estruturação do mundo em opostos complementares (CASTAÑEDA, 2018, p. 16) e que os conteúdos dos ensinamentos aos neófitos do aprendizado do brujo tornam o aprendiz do sistema mágico “livre das idealidades e das falsas metas” (CASTAÑEDA, 2018, p. 21-22). Este último fator nos remete ao conceito de Wu Wei (a inação intencional) no pensamento taoísta de Lao Tzu, no canto LXIII do Tao te king: “A coisa mais macia da terra / Vence a mais dura. / O que não existe penetra até mesmo / No que não tem frestas. / Nisso se reconhece o valor da não-ação. / O ensino sem palavras, o valor da não-ação, / São raros os que o conseguem na terra (LAO TZU, 2006, p. 82).

Ainda em Eram os deuses astronautas?, Erich von Däniken afirma que não seria absurdo pensarmos que a Epopéia de Gilgamesh ocorreu em Tihuanaco e o escrito foi levado para a Suméria através do Egito. Sua afirmação baseia-se no fato de que, supostamente, haveria uma menção da Porta do Sol de Tiahuanaco nessa epopeia (DÄNIKEN, 2010, p. 66-68). Mais uma questão de interpretação, neste caso, da epopeia.

Em termos de migrações e influências de um povo sobre outro, segundo Guy Annequin, no livro de Gaston Courtillier As Antigas civilizações da Índia, os Nagas, antigas divindades indianas, teriam uma relação com entidades da América pre-colombiana (ANNEQUIN, 1978, p. 12-13). Annequin também afirma que a civilização antiga da Índia (Mohenjo Daro e Harappa) se relacionava com a sumeriana (ANNEQUIN, 1978, p. 21). Aqui, Annequin não fala de presença alienígena no passado.

Em texto introdutório a esse mesmo livro, Annequin nos fala da presença de selos de argila da civilização de Mohenjo Daro na Mesopotâmia e de um selo elamita em Mohenjo Daro. (ANNEQUIN, 1978, p. 32-33). Também, foram encontradas “várias vezes” representações de um animal “fazendo lembrar o licorne que simboliza o deus nacional da Babilônia, Marduque” (ANNEQUIN, 1978, p. 32).

O contato da Índia antiga com a Mesopotâmia pode ter-se dado através dos Árias, povos da Ásia Central, que invadiram o norte da Índia entre 1500 a.C. e 1200 a. C. e pela própria proximidade do Irã em relação à Índia (ANNEQUIN, 1978, p. 37-39).

Digno de nota é também a influência da arte grega e romana sobre a Índia conforme afirma Gombrich em seu livro A História da arte (GOMBRICH, 2015, p. 124-127). Seria possível que a cultura helenística tenha recebido da Índia alguma influência cultural?

Por volta de 120 d.C., os Citas chegam do Irã, marcando mais essa possibilidade de influência. Invasões de tribos seminômades mongóis são rechaçadas pelos hunos, cuja influência chegará até a Indochina. Poderia haver uma migração da Indochina para a América do Sul, influenciando as culturas pré-colombianas? Já nos séculos I e II d.C., temos arte com influência grega na estatuária budista, anteriormente à menção feita por Gombrich, supracitada, como veremos (ANNEQUIN, 1978, p. 44-45).

Na Mesoamérica, a civilização olmeca, segundo Maria Longhena em seu O México antigo, (LONGHENA, 2006, p. 20) floresceu entre 1800 a.C. a 400 d. C. Parece-nos que pode ser mais fácil a civilização olmeca ter influenciado as civilizações asiáticas supracitadas do que o contrário. Buda surge na Índia no seculo VI a. C.

Segundo Giovanni Garbini, a civilização fenícia data de 1190 a. C (GARBINI, [s.d.], p. 7). Há teorias segundo as quais os fenícios teriam chegado às Américas (CHILDRESS, 1987, p. 253-266) (GUIRAO, 1984, p. 41-53). Ora, se a civilização olmeca data de 1800 a.C. a 400 d, C., neste esquema global de migrações uma pode ter influenciado a outra. Ou seja, poderíamos levantar a hipótese dos olmecas terem influenciado a civilização fenícia, numa rota pelo Atlântico, Pedro Guirao chega a levantar a hipótese de migrações das Américas para a Fenícia (GUIRAO, 1984, p. 44-45). Houve reciprocidade nessa influência. nas rotas necessárias para o contato dessas civilizações? Os arianos, por sua vez invadiram o Irã em torno também de 1190 a. C. Poderia a cultura ariana ter influenciado além do Irã, a próxima Fenícia? E os dórios, seriam arianos? Caso essas respostas forem positivas, isso traria a influência ariana até as Américas? David Hatcher Childress, em Cidades perdidas e antigos mistérios da América do Sul, cita Cyrus Gordon que, conhecendo-o ou não, confirma a hipótese do Dr. Ladislau Netto, que teria identificado as inscrições da Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro como sendo fenícias. Childress fala também em egípcios e acadianos na América do Sul (CHILDRESS, p. 258-261).

Já Pedro Guirao, em seu livro O Enigma de Teotihuacan, afirma que os astecas e os maias tiveram antepassados que podem ter tido contato com os fenícios ou outro povo marítimo “como os tartassenses, os atlantes ou seus descendentes, entre os quais podem achar-se tanto egípcios como iberos, celtas, etruscos ou outros indivíduos de nomes desconhecidos” (GUIRAO, 1984, p. 81).

Por outro lado, Simone Waisbard, em As Pistas de Nazca, diz-nos que “Paul Rivet e sua escola de antropólogos americanistas” presumem que povos do Oriente, desde a Índia até a Polinésia, teriam vindo de ilha em ilha até chegarem à América do Sul, conforme já dissemos aqui (WAISBARD, 1980, p. 71).

Guy Annequin nos diz, nas páginas 44 e 45 do livro As Grandes civilizações da Índia que, nos dois primeiros séculos da Era Cristã, houve intensas trocas comerciais em todas as direções na Ásia e Europa: “desde o Mediterrâneo até a China”, pondo em contato “os mundos grego, egípcio, romano, árabe, iraniano, indiano, chinês, etc… As ideias e as artes deviam forçosamente ressentir-se desses contatos” (ANNEQUIN, 1978 p. 44-45). Mas essa data não seria tardia para a interação das culturas asiáticas e pré-colombianas, interação esta que levasse a um processo de formação de estilos artísticos semelhantes? Talvez não. No mesmo livro, há uma descrição da iconografia budista provavelmente desses séculos iniciais do primeiro milênio:

Em escultura, a imagem canônica do Buda precisa-se; escultores de imagens fixam alguns dos 80 sinais que o distinguem: a protuberância craniana – que é a deformação mal interpretada de um coque – um tufo de pelos entre as sobrancelhas, as três pregas no pescoço, a Roda da Lei figurada na palma das mãos ou na planta dos pés, o hábito monástico, etc… Fixam-se cânones não menos rigorosos para suas atitudes e gestos das mãos e cada qual se reveste de um significado simbólico preciso, como uma verdadeira linguagem: meditação, caridade, descontração, concentração, prédica, declaração, gestos para tranquilizar ou para tomar a terra como testemunha (ANNEQUIN, 1978, p. 46).

E ainda, agora sobre os brâmanes:

“Por seu lado, a iconografia brâmane elabora-se igualmente, e ainda que o fervor popular começasse a distinguir os semideuses Krishna e Rama, só muito mais tarde triunfariam no domínio das artes.” (ANNEQUIN, 1978, p. 46).

Este mesmo autor, no seu texto “Quarenta séculos de indianidade”, fala-nos de três estilos da arte indiana: o estilo greco-budista, a noroeste; o estilo de Mathura, a nordeste, e o Amaravati, a sudeste. Nestes três estilos, o Buda é representado no cânone supracitado. Todos a partir do século II de nossa Era (ANNEQUIN, 1978, p. 46-47).

Annequin prossegue dizendo que a escola de Mathura se difundiu para longe, até Long-men na China, a partir de Mathura, centro religioso e artístico dos dinastas de Kushana. Essa produção dura cerca de cinco séculos, do século I a. C. até cerca de 550 d. C., com apogeu no século II d.C. Desta cidade, destruída de forma consciente, só restaram alguns restos de arquitetura (ANNEQUIN, 1978, p. 47-48). Annequin prossegue: “[…] Esse estilo, melhor seguido noutros lugares, diz-se o herdeiro da estética indiana de Bharhut e de Sanchi, com traços helenísticos inevitáveis na época, bem entendido, mas também iranianos, se observarmos o vestuário […]” (ANNEQUIN, 1978, p. 47-48).

Esta influência iraniana pode atestar o contato da civilização indiana com outras culturas a Oeste, como o Iraque e a Palestina, terra dos antigos fenícios. E segundo ainda Annequin, a terceira escola de arte, a Amaravati, não deixa de ter uma influência “alexandro-romana” da época, também havendo uma influência dravidiana. A produção Amaravati teria ido até o século IV d. C. (ANNEQUIN, 1978, p. 48). Assim, respondemos à nossa indagação anterior, neste texto, sobre os contatos entre o mundo indiano e o Oriente Médio.

Também, houve achados na região de Begram, a 30 km a norte de Cabul, entre eles 600 marfins de origem indiana, e outras obras com grande diversidade de origens (Alexandria, Grécia, Roma, China, Índia, etc.) o que comprova uma “espantosa intensidade de trocas”, nesses dois primeiros séculos de nossa Era (ANNEQUIN, 1978, p. 49-50).

A arte indiana gupta chega ao seu apogeu no século VIII d. C., é o chamado período clássico da arte indiana e sua influência chegou até o Japão, porém, sua influência mais perfeita foi no Sudeste Asiático (ANNEQUIN, 1978, p. 51). Ora, se pensarmos na teoria das migrações a partir dessa região para as Américas, pode-se intuir uma influência artística nessa última região. Por outro lado, bronzes do século IX d.C., de Nalanda têm afinidades com a arte javanesa (ANNEQUIN, 1978, p. 55-56).

Segundo Philippe Aziz em seu Angkor e as civilizações birmanesa e tai, os arianos, com seu rei Kombu, teriam vindo da Índia para o Camboja, onde teriam se estabelecido e transmitido influencias culturais, à época de Alexandre, o Grande. Para Aziz, o povo do Khmer é um tronco dos arianos (AZIZ, 1978, p. 44-45). Pode-se depreender, do que foi dito, que os arianos teriam ido até as Américas, a partir de sua difusão pela Europa ocidental, e lá influenciado as culturas locais?

Guy Annequin nos informa que os mongóis dominaram a Índia do século XVI d.C. ao século XVIII d. C. A nossa hipótese é que também os mongóis, mas em tempos recentes, teriam influenciado os povos americanos da era pré-colombiana (ANNEQUIN, 1978, p. 61-75). Os arianos, por sua vez, teriam levado o sânscrito para a Índia. Provavelmente, levaram alguma forma arte para essa região, dominada anteriormente pelos dravídicos (ANNEQUIN, 1978, p. 37-39). Podem ter levado, também, traços estilísticos de arte para o Khmer.

De qualquer forma, há uma teoria muito conhecida que afirma ter havido uma migração das terras da Mongólia para as Américas, pelo Estreito de Behring, em períodos neolíticos ou paleolíticos. Mas esta migração ocorreu em tempos de primórdios da história da arte dos povos envolvidos.

Gaston Courtillier, sobre a Índia antiga e o Irã da mesma época, diz-nos que alguns deuses presentes nos tratados dos reis de Mitani e dos hititas podem ser “proto-arianos”, originados antes da separação dos Árias e dos iranianos, ou terem sido levados para o Irã por alguma tribo originária do Indo. Ainda, a palavra para “lavoura” é a mesma para indianos e iranianos. E mais, a bebida soma deve ter sido conhecida pelos arianos através dos aborígenes do Irã, antes dos primeiros entrarem na Índia (COURTILLIER, 1978, p. 99-114). Podemos levantar a hipótese dos arianos terem ido do Irã para a Mesopotâmia e desta para a região da Fenícia, do Egito e da Grécia e de lá partido para as navegações até as Américas. Se focalizamos nosso olhar nesse povo, os arianos, é porque eles são aparentemente um nexo entre a Índia e a Europa mediterrânea.

Segundo Phillip Aziz, o reino do Khmer, no século XII estendeu-se até a Birmânia (reino de Pagan) (AZIZ, 1978, p. 84). Segundo este autor, a arte de Baphuon, no Khmer, apresenta representações de homens de “barba rala, espontada sobre o queixo” (AZIZ, 1978, p. 161). Ora, lemos em Tiahuanaco: 10.000 anos de enigmas incas, deSimone Waisbard, a informação de que o deus Viracocha teria a pele clara e barba pontuda (WAISBARD, [s.d.], p. 240-241). Ora, os indígenas peruanos, e outros, não têm barba. Segundo David Hatcher Childress, um dos membros da equipe do programa Ancient Aliens, num momento de sua vida em que ele desprezava totalmente a hipótese alienígena para os mexicanos, Quetzalcoatl teria vindo do Leste (CHILDRESS, 1987, p. 124-125).

Um documentário do History Channel narra-nos que a expedição nazista da sociedade de nome Ahnenerbe teria encontrado no Tibet uma estátua de um deus com barba (posto que com auréola), sendo que o tibetano, como o indígena americano, não tem barba ou tem pouca. Isso teria sido um indício, para os nazistas, da presença de indivíduos da chamada “raça ariana” no Tibet. É claro que os arianos eram um povo e não uma raça (https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/07/140725_estatua_nazista_meteorito_lab.amp acesso em 24/08/22).

Segundo Phillip Aziz, na obra supracitada (AZIZ, 1978, p. 161), a barba, nessas esculturas do Khmer, seria uma marca distintiva do gênero masculino, ou seja, é um traço iconográfico. Apareceria tal traço em obras centro-asiáticas e outras obras a oeste da India? A iconografia de Jesus Cristo parece ser desta ordem. Parece-me fora de senso desprezarmos essa simples visualização feita por parte desses nazistas; suas teorias e ilações devem, é claro, ser banidas, mas, do ponto de vista ideológico, não usamos produtos químicos e tecnologia de foguetes criadas pelos nazistas? Assim, essa mera visualização, ou percepção visual, pode ser considerada. Inclusive, segundo o canal History Channel, Hitler, a partir da lenda de Parsifal, e na procura pelo Santo Graal, acreditava que os alemães e Jesus Cristo tinham uma ligação “sanguínea”.

No entanto, alguns pensam que a estátua encontrada pelos nazistas é falsa (http://esmateria.com/2012/10/22/la-estatua-nazi-esculpida-en-un-meteorito-es-una-falsificacion-segun-varios-especialistas/ acesso em 24/08/2022). Mas há os que põem em suspenso sua autenticidade, como Elmar Buchner:

Buchner acusa a los medios de comunicación de haber puesto el foco en el origen de la estatua y en su edad. “En nuestro estudio, le contamos al lector lo que sabemos sobre estos aspectos, pero explícitamente declaramos que son especulaciones”, afirma. Sin embargo, el comunicado que envió la revista científica en la que se publicó el estudio se titulaba directamente ‘Una estatua budista descubierta por una expedición nazi está hecha a partir de un meteorito’”. (http://esmateria.com/2012/10/22/la-estatua-nazi-esculpida-en-un-meteorito-es-una-falsificacion-segun-varios-especialistas/ acesso em 24/08/22).

Mas permanece a questão da auréola. Seria um Buda de barba? A postura do homem representado é a da meditação. Possui uma suástica em baixo-relevo no peito, o que nos remete ao hinduísmo e ao budismo. Falando ousadamente, seria interessante notarmos que, para os mórmons, Cristo esteve na América, provavelmente após a ressurreição. Outro autor, Holger Kersten em seu Jesus viveu na Índia: sua vida desconhecida antese depois da crucif,icação nos diz que Cristo teria vivido na Índia por algum tempo. Quem é essa figura, ou esse arquétipo, nas imagens do Tibet, do Khmer, e nas Américas? (AZIZ, 1978, p. 161), (KERSTEN. 2019).

No entanto, as barbas nas representações do Khmer são barbas ralas e não barbas nórdicas ou semitas. E, notemos, as barbas indianas, pelo menos nos dias de hoje, são, em diversos casos, barbas cheias. De qualquer forma, esta linha de raciocínio pertence a um trabalho de mitologia comparada, e não a um trabalho de dispersão populacional e sua consequente influência cultural. As raças asiáticas têm pouca, ou nenhuma barba? E os chineses, não vemos imagens de sábios chineses com longas barbas? Os chineses, assim como os japoneses e os índios brasileiros têm, no máximo, barba no queixo e bigodes. E os indianos, em que casos eles têm barba?

Segundo Phillip Aziz, no século III a.C. o imperador indiano Asoca, da dinastia dos Mauryas, enviou missionários budistas para a Birmânia, passando pelo Tibet. Se pensarmos que os indianos tiveram uma forte colonização ariana (AZIZ, 1978, p. 210), então faz sentido a suspeita da SS de Hitler e Himmler de encontrar vestígios arianos no Tibete. Mas, ariano não é raça, conforme já dissemos, é povo. E é claro, neste fazer sentido, não queremos dizer que a SS tenha alguma razão em seus atos.

Mas, voltando aos arianos, eles não são o foco aqui. Em visualização ligeira de imagens de máscaras tibetanas, maias e astecas podemos observar similaridades. Se houve migrações do Tibet até as Américas, trazendo influências da arte do primeiro para a arte do segundo, é preciso saber qual a rota de saída dos tibetanos e em qual época.

Como se pode ver, não apenas a Índia, com sua constituição populacional peculiar, mas, também o Tibete, como etnia diversa à da Índia, entra no esquema das migrações possíveis para as Américas e subsequentes influências artísticas.

Segundo Phillip Aziz em seu “Angkor Wat e as civilizações birmanesa e Tai”, tribos chamadas Birmanesas desceram dos planaltos sino-tibetanos e se estabeleceram na região fértil onde confluem os rios Irrawaddy e Chindwin, na própria Birmânia (AZIZ, 1978, p. 224-225). Isto no ano 107 d.C.

Depois disso, ainda segundo Aziz, provavelmente, tribos indianas teriam chegado à região da Birmânia e se mesclado com populações autóctones, já no século IX d.C. Eram os Mons, provavelmente de origem em Orissa, na Índia. (AZIZ, 1978, p. 222-223).

No século XIII d. C. os mongóis invadiram esse reino, de Pagan, que era o reino fundado pelos Mons, conforme supracitado.

Segundo Aziz, durante o reinado de Narathu, entre 1167 d.C. e 1170 d.C. iniciou-se a construção do templo de Dhammayang, com um estilo mais propriamente birmanês, livre da influência da arte indiana e mon, a não ser pelo nariz aquilino de uma maciça estatua de Buda na entrada do templo (AZIZ, 1978, p. 246-247).

Voltando mais especificamente à Índia antiga, em cerca de 1400 a.C., os povos que habitavam a região onde hoje é o Afeganistão tiveram contato com iranianos e indianos por facilidade geográfica. Iranianos e indianos provieram de dessa área, podendo-se ler no nome de seus deuses similaridades notáveis. O Rigveda (indiano) e o Avesta (persa) “mostram laços de parentesco”. Houve um período ariano em que iranianos e indianos estavam juntos na mesma região (COURTILLIER, 1978, p. 175-177).

É muito importante, também, salientarmos os contatos de Ciro e Dario, da Pérsia, com a Índia, no século VI a. C., e a influência grega sobre esta região, através de Alexandre da Macedônia. Alexandre teria facilitado o contato da Índia com a Babilônia e o Egito, imitando Dario (COURTILLIER, 1978, p. 179-180). É preciso saber se esta influência grega (e, se houver, babilônica e egípcia) sobre a Índia chegou de alguma forma às Américas. Mas a rota de saída para as Américas deve ter sido pela região onde hoje é a Indochina, de onde saíram não só indianos, mas, talvez, também os tibetanos, ou, simplesmente contingentes da Indochina, melhor dizendo, da Birmânia.

A escrita indiana Brahmi, uma das escritas da Índia antiga, com variações usadas até a data do livro de Gaston Courtillier, seria de origem fenícia, povo que comerciou com a Índia através da Babilônia (COURTILLIER, 1978, p. 185).

Parece-nos que a arte asiática que pode ter influenciado a arte dos povos da América pré-colombiana é um misto de arte indígena da região da Indochina e da arte budista, muito embora a civilização olmeca date de até 1400 a.C., ou seja, 800 anos antes de Buda. Ou foi a arte olmeca que influenciou a arte asiática? De fato, as cabeças de Buda da Indochina são cabeças largas, quadrangulares ou arredondadas, idem para as grandes cabeças olmecas.

Mas não há registros da passagem de povos pré-colombianos pelas principais regiões da Ásia aqui estudadas. Quanto às Américas, registros em geral não existem ou pouco existem. Segundo episódio do programa Alienígenas do Passado, pessoas do mundo inteiro teriam passado, ou colonizado as terras olmecas. Isto sugere-me que a Mesoamérica teria sido um entreposto talvez comercial de povos vindos do Pacífico e do Atlântico. Há esculturas que parecem ser de negros e outras que parecem ser de chineses, por exemplo.

No episódio de Alienígenas do Passado acima comentado, a consideração sobre as representações multiétnicas dos olmecas termina em uma declaração de supostos indícios de que o relevo chamado por alguns “O Astronauta de La Venta” pode representar um homem sentado num foguete, talvez inviabilizando a tese das migrações, ou trata-se de uma superinterpretação? É bem provável.

Segundo Gaston Courtillier, em seu As Grandes civilizações da Índia, esta última, através dos arianos do Irã, teria recebido influências da arte animalista dos caldeus presente em sua arquitetura. Também, algumas artes em terracota apresentam influência mesopotâmica (COURTILLIER, 1978, p. 233-234).

Indo até a América pré-colombiana, sobre o argumento segundo o qual as grandes cabeças de pedra da cultura olmeca seriam semelhantes às cabeças dos negros da África Subsaariana, temos a dizer que, segundo Gaston Courtillier, os indianos do sul, os dravidianos, têm nariz platirrínico, ou seja, nariz chato, como nas cabeças olmecas, que datam de aproximadamente 1000 a. C. Os dravidianos também tinham cabelos fartos e às vezes encarapinhados. Seriam fruto da miscigenação da população autóctone com “negroides” vindos do Baluquistão, alguns milênios antes de Cristo, segundo uma hipótese. Os dravidianos, muito antes de nossa era, teriam relações comerciais com o Egito, o Ocidente e a “Ásia anterior”. No entanto, nomes de especiarias remontam ao grego intermediário e às formas arianas da Índia setentrional. Segundo ainda Courtillier, os dravidianos teriam ido até o Ceilão. Esta região recebeu duas ondas migratórias: a dos dravidianos e a dos arianos (COURTILLIER, 1978, p. 247-248).

Tentando fechar o circuito pelo lado das Américas, falemos de Paul Rivet, em seu As Origens do homem americano. Este autor, embora negue que os “normandos” (nórdicos) tenham influenciado os indígenas norte-americanos que se encontravam próximos à Groenlândia, diz-nos que houve comércio intenso entre a América do Sul e a Polinésia, inclusive com fortes semelhanças linguísticas entre a língua quíchua, falada na América do Sul e línguas Sul da região da Polinésia, e outras. Além disso, instrumentos como o machado são comuns a estas duas regiões. E antes dos polinésios vieram os melanésios. Ainda segundo Paul Rivet, na obra supracitada, o coco da Bahia e o inhame foram introduzidos na América pelos polinésios, no mínimo logo antes da conquista espanhola. Já o algodão e a “cabeça” foram introduzidos antes, pelos melanésios por volta do segundo milênio antes de Cristo. Segundo Rivet, houve navegações de cabotagem, do Peru ao México, levando a este último técnicas de metalurgia (RIVET, 1960, p. 135-152).

Ora, se os polinésios e os melanésios puderam chegar aqui no segundo milênio antes de Cristo, civilizações oceânicas posteriores poderiam também ter aqui chegado. Mas a saída de orientais para as Américas pode ter-se dado também pela China e outras regiões do extremo leste da Ásia. Segundo Paul Rivet, “[…] O Pacífico não se tornou de forma alguma um obstáculo. Foi, ao contrário, um traço de união entre o mundo asiático e a Oceânia e o Novo Mundo..” (RIVET, 1960, p. 150).

Voltando à Índia e ao Irã, este último povo, sob o rei Kanishka, segundo Gaston Courtillier, foi até além do Himalaia em suas campanhas de conquista (COURTILLIER, 1978, p. 272-273).

A coleção da Editora Hemus, de que nos valemos para este estudo, é notoriamente uma coleção de crônicas históricas, ou seja, com um tratamento literário. Isso nos mostra a relação estreita entre historiografia e ficção. Uma estratégia chave para dotar de suspense e ritmo a narrativa de Simone Waisbard, em seu libro sobre Macchu Pichu,e em outros livros aqui tratados, é a de narrar a história em tempo verbal presente. Essa semelhança com literatura de ficção é uma semelhança com estórias onde o estético ganha tom preponderante e representa um aspecto pós-modernista.

Se houve a chegada de pessoas às Américas, vindas da Ásia e Oceania, essas poderiam ter trazido estilos artísticos que teriam se conservado graças à prática contínua de arte pelos povos migrantes

Como se vê, há várias abordagens para essa questão da similaridade entre estilos de regiões diferentes e distantes. Pelo menos três: a hipótese alienígena, a hipótese das migrações e a hipótese do inconsciente coletivo. Isto é um terreno fértil para que uma lógica pós-modernista se implante. E, no caso da hipótese alienígena, seus autores quase afirmam a veracidade de suas teorias. Isso cria uma opção de verdade muito pregnante na mente do público.

3. ESTUDO DE CASO: ERAM OS DEUSES ASTRONAUTAS?

Logo na introdução deste livro, von Däniken nos fala acerca da importância da Era Espacial. Logo intuímos que essa era representa uma mudança profunda de mentalidades. Isso é suficiente para justificar um investimento estatal e privado em propaganda pró-viagens espaciais, com grande alcance dessas mensagens? A  significação deste momento está marcada de forma profunda no imaginário popular, certamente

Ainda na Introdução, von Daniken nos diz que “arquivos” de sociedades secretas estão sendo abertos, revelando segredos para a arqueologia ufológica, isso nos dá indícios de que membros dessas sociedades serão leitores de tais teorias, ajudando-nos a definir o público-alvo dessas obras (DÄNIKEN, 2010, p. VII-VIII).

João Ribas da Costa, na “Introdução I” de Eram os deuses astronautas? Fala-nos de “Jung e seus discípulos” como proponentes da teoria de que em todo o mundo diferentes culturas compartilhariam formas e mensagens oriundas de uma estrutura mental comum a essas culturas, reveladas através de sonhos. Costa nega que essas estruturas revelem a origem de monumentos e obras de arte com similaridades por todo o mundo. afirmando que sonhos não movem pedras (COSTA, 2010, p. 1-4).

Ainda nas palavras introdutórias ao livro, o professor Flávio A. Pereira, na “Introdução II”, diz-nos que o livro é de especulação científica e que von Däniken afirma que não faz ciência (PEREIRA, 2010, p. 5-9). Ora, isso nos mostra a colocação intermediária de von Däniken em relação à ficção e à ciência, revelando-nos o aspecto de pós-verdade de suas teorias. Ou, pós-modernidade.

Ainda nessa introdução, o professor Pereira diz-nos que análises astronômicas dos signos deixados por homens pré-históricos revelam que tais signos não estão relacionados com a magia para o sucesso na caça, o que contraria as teorias acadêmicas que defendem esta última interpretação. Também, esse mesmo professor nos fala acerca da presença de raízes sânscritas em palavras da civilização Inca. Ao mesmo tempo, o professor nos informa da existência de menção a armas muito poderosas nos escritos da Índia milenar (PEREIRA, 2010, p. 5-9).

Nas páginas de 11 a 13, von Däniken nos fala da possibilidade de vida alienígena dada a enorme quantidade de corpos celestes presentes mesmo que apenas no alcance dos telescópios da época em que foi escrito o livro (década de 60 do século XX). Este é um argumento muito simples, puramente probabilístico e aqui não há de forma alguma comprovação, como qualquer um pode perceber (DÄNIKEN, 2010, p. 11-13).

Na sequência, Däniken nos diz que não há necessidade de se ter condições naturais semelhantes às da terra para a vida alienígena, tomando como exemplo as bactérias anaeróbias que não precisam de oxigênio para viver. Aqui temos um argumento mais plausível, que sugere em si uma função de verdade (DÄNIKEN, 2010, p. 13-14).

O autor afirma que experimentos têm sido feitos com seres vivos muito pequenos sobrevivendo em ambientes totalmente adversos, que constituem processos lógicos na luta contra o obscurantismo (DÄNIKEN, 2011, p. 15). Em outro ponto deste texto dissemos que a metodologia de análise da Arqueologia Ufológica era positivista e que seguia uma lógica apofântica, linear. Essa afirmação, sobre eliminar as trevas do obscurantismo, sugere-nos uma visão iluminista dos fatos, coisa que combina com a ideologia do liberalismo americano.

Nas páginas 22-26 o autor descreve o impacto, sobre homens primitivos em um planeta distante, da chegada de terráqueos de tecnologia avançada em tal planeta (DÄNIKEN, 2010, p. 22-26). A projeção tem um cenário semelhante ao descrito por Zecharia Sitchin em todos os seus livros por nós lidos até agora. Neles, autóctones deste planeta Terra são postos para minerar urânio, para que a nave visitante possa ter combustível para voltar a sua origem. Na obra de Sitchin, é criada a raça humana, a partir de manipulação genética, para o fim de minerar ouro para ser espalhado na atmosfera deficiente de Nibiru, o suposto planeta de origem dos deuses sumérios, os Annunakis. também, os humanos, nessa especulação de Däniken no primeiro capítulo de Eram os deuses astronautas?, são modificados por manipulação genética, com a inseminação de fêmeas autóctones pelos astronautas visitantes (SITCHIN, 2014, 115-135) (DÄNIKEN, 2010, p. 23-24).

Começando a contemplar exemplos de supostas obras alienígenas, von Däniken fala-nos das pistas de Nazca, no Peru, afirmando que elas poderiam ser pistas de pouso para alienígenas. Nessa hipótese, ele usa o mais simples raciocínio icônico, por comparação (analogia visual): se a obra se parece visualmente com uma pista de pouso, ela poderia ser uma pista de pouso antiga (DÄNIKEN, 2010, p. 31-32).

Outro argumento de von Däniken referente às pistas de Nazca é o de que os antigos habitantes daquele local não se dariam a tanto trabalho por nada e que a hipótese do pouso de alienígenas serviria como explicação do fenômeno (DÄNIKEN, 2010, p. 31-32). Mas uma função ritualística das imagens também motivaria sua construção.

Na página 35, o autor nos fala de grampos de cobre usados para fixar blocos de pedra nas construções de Tiahuanaco, na Bolívia. Ele afirma que não há paralelo a isso na Antiguidade (DÄNIKEN, 2010, p. 35). No entanto, na construção do Partenon, de Atenas, no século V a.C., também foram utilizados grampos metálicos. Aliás, falando de gregos, como eles levaram grandes blocos de mármore para fazerem suas colunas, etc, subindo as íngremes encostas da Acrópole? Por que isso não é questionado em nenhum ponto das obras de von Däniken por nós lidas até o presente momento?

Também critica Däniken o ato da Arqueologia acadêmica de juntar cacos de cerâmica, pesquisar culturas vizinhas e reunir tudo num mesmo paradigma explicativo dos fenômenos dados (DÄNIKEN, 2010, p. 36). Ora, essa variedade de saberes sugere-nos aquilo que em arte pós-moderna chamamos de hibridismo de linguagens. Uma multiplicidade que não seria um hibridismo de aspectos étnicos, ou culturais, mas sim um hibridismo de metodologias e referenciais teóricos, negando-se a utilização de uma só narrativa (teoria) para a consideração dos fatos.

O autor afirma, sobre as figuras bidimensionais de Tassili (Saara), que estas não poderiam ser fruto da imaginação dos homens daquela época porque elas se repetem diversas vezes, mas essa repetição pode ser fruto de uma convenção estilística, um tipo, que se repete talvez para que supostos efeitos mágicos se produzam com mais eficiência, por exemplo (DÄNIKEN, 2010, p. 46-47). Segundo von Däniken, há obras semelhantes em Tulare, Califórnia, Estados Unidos.

O autor nos diz que uma interpretação simbólica de figuras antigas é típica da arqueologia acadêmica, levando-se em conta também a religião. Essa declaração, que caracteriza a Arqueologia Ufológica como contrária ao Mito, confirma nossa visada da arqueologia ufológica como método positivista (DÄNIKEN, 2010, p. 47-48).

Nas páginas 51 e 52, o autor faz uma interpretação literal da Bíblia: no Gênese Deus diz “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança” ao que o autor conclui serem mais de um deus os responsáveis pela criação do homem, uma interpretação muito comum entre esotéricos e “alternativos”. Aqui o autor usa uma interpretação onde há uma relação direta de implicação: os termos lógicos do texto bíblico implicam diretamente os signos na interpretação, sem mediações simbólicas ou metafóricas e analógicas. Mais um indício de positivismo.

Nessas mesmas páginas, o autor também considera a expressão “filhos de Deus”, que está no episódio do Gênese em que tais seres se deitam com as filhas dos homens, como sendo a indicação literal de que tais seres teriam, de fato, inseminado essas filhas. Supõe von Däniken que os filhos dessas uniões eram gigantes que poderiam ter movido enormes pedras, monolitos, em várias partes do mundo. O autor supõe serem esses os filhos dos deuses astronautas. (DÄNIKEN, 2010, p. 51-52).

Comentando o mito de Sodoma (ele comenta como fato e não mito), von Däniken utiliza também um raciocínio icônico, comparando a descrição bíblica com uma explosão nuclear e a fuga de Ló e sua família para as montanhas como a ida para um abrigo atômico. O mesmo ele faz com a história de Ezequiel, comparando a visão de Ezequiel do carro voador com a descida de um aparelho alienígena. No caso de Ezequiel, von Däniken nos traz um argumento lógico: por que Deus, ou seus filhos (deuses) usaria um carro para se dirigir a Ezequiel, se Ele, Deus, é onipresente? (DÄNIKEN, 2010, p. 52-56).

Na mesma sequência, o autor descreve a Arca da Aliança como um forte acumulador de energia elétrica dotado de sistema de comunicação. Para isso ele se serve do “esquema” da arca e da morte de um dos seus acompanhantes (Oza), por descarga elétrica, quando este tocou a Arca. Aqui temos um argumento esquemático, o esquema da Arca e a relação entre suas partes é análogo ao esquema de um acumulador de energia elétrica. (DÄNIKEN, 2010, p. 56-58).

Logo depois, Däniken analisa a história do surgimento de Noé que apareceu a Lameque, quando este voltava para sua casa, como uma criança sem semelhança com sua família, mas parecendo um filho do Céu. Daí o autor sugere que essa criança era um alienígena. Para aumentar ainda mais seu poder de convencimento, von Däniken cita o desaparecimento para sempre de Enoque, que sumiu sem ter morrido. Enoque que fora quem disse a Matusalém que o neto deste, Noé, teria uma descendência que sobreviveria a um grande flagelo, o dilúvio. Ao fim deste capítulo, o autor tem mais um raciocínio esquemático: falando sobre fornos de fundição com características modernas, datados de 5 mil anos atrás em Ezeon-Geber (DÄNIKEN, 2010, p. 59-60).

O que se nos descortina é o aspecto icônico do pensamento de Däniken. Ele opera por analogia visual na maioria das vezes, até o que lemos neste momento no livro. Essa é a estratégia semiótica do autor para se manter numa linha limítrofe entre a ciência e a ficção. Não pode ser comprovado, mas não se pode comprovar que suas teorias são falsas.

No capítulo V, von Däniken compara os mitos de Noé e da Epopéia de Gilgamesh, utilizando o pensamento icônico analógico. O herói Utnapishtim, sumério, sendo análogo ao Noé bíblico (DÄNIKEN, 2010, p. 66-67). Däniken expõe-nos a similaridade entre o corvo e a pomba, que saíram da arca para buscar terra firme, do mito de Noé e os mesmos animais na história de Gilgamesh. Mas a origem suméria do texto do Gênese é bem conhecido.

A seguir, na ordem das páginas do livro, o autor assume que não tem pretensão à verdade com sua teoria. Assume que lhe basta a crença nesta e que prefere a busca da verdade do que a aceitação de uma verdade única (DÄNIKEN, 2010, p. 70-72). Aliás o autor nos diz que, em geral, a única coisa que podemos fazer com uma teoria é acreditar nela. Isso nos leva a pensar sobre a crise do fundamento de verdade no pensamento pós-moderno.

Mas, uma questão: na página 75 de seu Eram os deuses astronautas, von Däniken expõe-nos as similaridades entre os vimanas indianos e aeronaves. Nesse ponto, o raciocínio se detém sobre o funcionamento desses aparelhos, tanto dos vimanas como de aeronaves modernas. Seu pensamento é esquemático e analógico, inclusive em termos de performance: ambos os tipos de aparelhos têm configurações semelhantes e se comportam de forma semelhante. Se ele pensa em funcionamento de partes de máquinas, ele pensa em ações e reações dessas partes uma com as outras, assim, torna-se um pouco mais crível sua ousada teoria, visto que aí há um fundamento físico na comparação (DÄNIKEN, 2010, p. 75). Aqui, as ações e reações de suas partes estão num nível com maior peso sobre o processo geral de comparação, são implicações mútuas e físicas, mas, dentro de uma física clássica.

Para saber-se mais sobre o conceito de ícone, índice e símbolo, ação e reação entre partes de um todo, etc, consultar a coletânea de textos de Charles S. Peirce Semiótica (PEIRCE, 2017, p. 63-76)

Nas páginas 75-76, o autor nos traz a descrição de uma arma, que está no texto hindu do Mahabarata, que tem efeitos, para ele, similares aos de uma bomba de hidrogênio. Também Däniken nos mostra a similaridade entre o nascimento do filho da virgem Kunti, filho do deus Sol, da cultura hindu, com o nascimento de Moisés. Segundo o autor, há similaridade entre a história de Yudhistira, único ser que poderia entrar no céu, havendo um paralelo aqui com os relatos sobre Enoque e Elias, na Bíblia.

Erich von Däniken nos mostra, às páginas 78 e 79, um argumento interessante: por que povos diferentes, distantes no espaço e no tempo, têm mitos com as mesmas, ou muito próximas, características. Isto pode ser explicado por meio da consideração dos arquétipos, voltando. Mas nem tudo pode a ideia de arquétipo explicar: como explicar, por esta teoria, o corte, o transporte e o posicionamento dos grandes blocos de concreto utilizados nas construções megalíticas?

A respeito da ilha Elefantina, no rio Nilo, no Egito, o autor nos diz que ela tem este nome porque tem a forma de um elefante, mas que tal forma só poderia ser vista do alto não havendo qualquer elevação do terreno que possibilitasse a visão de tal forma, por isso caberia a pergunta se tal ilha não foi vista por indivíduos em sobrevôo. Aqui, Erich von Däniken utiliza uma combinação de um processo icônico (a comparação das formas) com um processo indicial que se refere à relação entre a forma e o observador, numa dicotomia. Essa forma se relaciona diferentemente para o observador em terra (visualização nula) e para o observador sobrevoando (visualização possível). Von Däniken combina um argumento de uma impossibilidade icônica com o caráter indicial da relação dual entre forma e observador. O ato de observar é um ato dual, observador e observado (DÄNIKEN, 2010, p. 82).

Ainda na página 82, Däniken nos fala de um edifício em Edfu, Egito, onde há uma escritura em que se afirma que tal edifício teria sido construído por extraterrestres. Ele nos fala também da impossibilidade dos canteiros à época de Imhotep terem cortado as pedras de granito da pirâmide escalonada de Sakhara com “cunhas de madeira e cobre”. Este argumento é muito comum nas teorias dos antigos astronautas apresentadas na TV pelo programa Ancient Aliens. Mas as pedras desta pirâmide são na verdade de calcário, uma pedra mais macia que o granito (DÄNIKEN, 2010, p. 82).

Ora, o primeiro destes argumentos guarda a possibilidade da declaração na inscrição de Edfu conter um arquétipo: o da descida de seres do céu para auxiliar, governar, etc, os terráqueos. Um mito, e não uma declaração testemunhal.

Também, nas páginas 82 e 83, o autor nos fala da atenção dada pelo Egito à estrela Sírius, sendo que esta só pode ser vista precariamente no “lusco-fusco” do horizonte na madrugada da cheia do Nilo. O autor cita também um calendário exato egípcio, de 4221 a.C., baseado no nascimento dessa estrela, o que supostamente se daria de forma concomitante com o início da cheia do Nilo. Mas isso não acontece como regra e a pergunta de von Däniken é: por que se basearam em Sírius se seria muito mais fácil basearem-se na Lua ou no Sol, já que Sírius nem sempre nasce durante a cheia do Nilo? Sendo este calendário probabilístico. Aqui, o argumento parace ser relevante (DÄNIKEN, 2010, p. 82-83).

Ainda na página 83, o autor nos fala da descoberta de um esqueleto num túmulo, provavelmente do rei Udimus, sendo que este esqueleto não pertence, segundo von Däniken a nenhum animal conhecido. Este argumento mostra-se mais crível, visto conter um fato, uma materialidade. Resta saber se este esqueleto não foi forjado, ou se pertence a algum animal com má formação congênita.

Por diversas vezes, na literatura dos antigos astronautas, são citados livros apócrifos fora da Bíblia e os pergaminhos do Mar Morto. Qual a validade desses escritos para a tese ufológica se esses não passam de relatos míticos e suas descrições, arquétipos, à exceção dos pergaminhos?

Na página 86, von Däniken fala de “novas alternativas” para a explicação desses escritos, os apócrifos e os pergaminhos do Mar Morto. Ora, “alternativa” é uma expressão oportunista, pois sugere a permanência da dúvida sobre fenômenos extraterrestres. Ora, aqui o autor recua em sua defesa aguerrida de sua tese, também. Isso pode ser um indício de sua própria descrença em seus argumentos (DÄNIKEN, 2010, p. 86). Ou, de que o autor clama por apenas ser considerado. Mas, o que significa ser considerado? Uma quebra de paradigma de verdade? Uma eterna dúvida quanto à verdade e falsidade de quaisquer argumentos neste campo das origens das obras de arte e monumentos, extrapolando? Será von Däniken um representante de sua época, marcada por incertezas e uma crise da razão?

Sobre a opinião dos céticos, von Däniken afirma que coisas que hoje são verdades, anteriormente eram consideradas fantasias, referindo-se a aviões, trens ultra-velozes. Ele cita também Schliemann, o arqueólogo que descobriu as ruínas de Tróia, que acreditou em Homero quando todos achavam que esta cidade era apenas a fantasia desse poeta. Aqui o autor volta a trabalhar com a dualidade verdadeiro versus falso e transparece confiança em ter seus argumentos tidos por verdadeiros (DÄNIKEN, 2010, p. 87).

Däniken também expõe o argumento de que bibliotecas antigas e contemporâneas foram destruídas, como se nessas bibliotecas pudesse haver informações sobre visitas alienígenas e outros dados. Aqui, como sempre, o argumento visa solapar certezas de seus opositores. Däniken também constrói a interpretação que versa sobre remanescentes de um conflito nuclear (que destruísse toda mitologia, inclusive). Arqueólogos do futuro poderiam visitar a Terra e atribuir a tais remanescentes nessa civilização mais recente o caráter de mitos (DÄNIKEN, 2010, p. 88). Isto é uma ilação e se isso acontecer não estaremos aqui para testemunhá-lo.

Na página 93, von Däniken exibe o argumento segundo o qual o Egito, segundo egiptólogos, teria praticamente surgido já desenvolvido, sugerindo, nesse hiato entre primitivismo e desenvolvimento, a ação de alienígenas. Ora, isso não seria falta de pesquisa e informação histórica? Houve um período de formação do Egito. Por que não foi considerado? A seguir, nas páginas 93-94, o autor nos fala da impossibilidade das margens agricultáveis do Rio Nilo alimentarem um país com uma população de milhões de habitantes. Mas, e as rotas comerciais do Egito? (DÄNIKEN, 2010, p. 93-94).

Um argumento interessante é aquele apresentado por Däniken na página 94 de seu livro, segundo o qual para transportar os blocos de pedra para a construção das pirâmides seriam necessários troncos de árvores e essas árvores não poderiam ser palmeiras já que estas fornecem alimentação ao Egito (tâmaras). Então o Egito deveria importar troncos de árvores que deveriam ser transportadas Nilo acima e isso exigiria uma frota de barcos, já que o Egito nesta época não contava com cavalos e carros para transporte. Este é um argumento interessante, porque supõe fatos. Ele se baseia na ideação sobre a atividade real de um transporte possível. Na verdade, ele elimina uma possibilidade factual de forma realista. Aqui vale a máxima do senso comum “contra fatos não há argumentos”. O autor estuda o encadeamento dos movimentos necessários à chegada dos troncos ao lugar de construção das pirâmides. Isso é mecânico. A menos que o autor esteja errado quanto ao uso das tamareiras para alimentação do egípcio naquela época (DÄNIKEN, 2010, p. 94).

Däniken usa a mesma estratégia para afirmar a façanha do Egito em escavar túmulos nas rochas havendo nisso uma técnica que seria a mesma para o rei Teti, da sexta Dinastia, e para o rei Ramsés, do Novo Império (DÄNIKEN, 2010, p. 95).

O movimento de transporte e o movimento de escavação citados acima são compostos por relações duais entre partes de uma máquina em si mesma e entre elas e o mundo exterior, ou pela interação da mão de obra que usa seu corpo que interage internamente (músculos, ossos, órgãos, etc) no ato de trabalho e interage com o meio que ele transforma (tudo isso são relações duais, de oposição, ação e reação, etc). Mesmo que o funcionamento de um órgão, ou do mundo, seja explicado por uma teoria diferente da mecânica clássica, subsistiria a relação entre sujeito de observação e objeto observado. Uma dualidade.

A seguir o autor nos fala sobre “textos de pirâmides do Reino antigo” que falam de viagens celestiais do rei em barcos celestiais (DÄNIKEN, 2010, p. 96). Este é mais um argumento que não leva em conta arquétipos, mas, por sua vez, a teoria dos arquétipos também não está no estatuto da comprovação.

Segundo von Däniken, a grande pirâmide de Gizé tem várias propriedades geométricas, entre elas o fato de que seu diâmetro da base dividido pelo dobro de sua altura é igual ao número pi. Também, esta pirâmide estaria localizada num ponto pelo qual passaria uma linha que divide o globo terrestre exatamente ao meio. Ainda, este monumento estaria localizado no baricentro dos continentes. Aqui o autor se vale de um argumento probabilístico: a probabilidade da ocorrência simultânea de tais propriedades seria mínima. Tal argumento nos levaria a uma maior probabilidade da presença de alienígenas no Egito antigo. Como os egípcios poderiam visualizar a forma do globo para localizar seu monumento num ponto com tais características?

Um argumento probabilístico atua na esfera das possibilidades, trata-se de primeiridade, em Peirce, e nada informa. Assim, temos mais um artifício retórico de Däniken, sem dúvida, um mestre da retórica.

Fig. 6

Na figura 6, temos uma representação que, segundo Daniken, seria, com muita probabilidade, do deus Kukumatz (em Iucatã: Kukulkan) em Palenque. Segundo von Däniken, pode se tratar de um astronauta, com o corpo em posição de ação, inclinado para a frente. O “veículo” teria sinuosidades “singularmente caneladas” em seu corpo, como orifícios de sucção. No lado inferior teríamos a chama do foguete, o suposto astronauta estaria com as mãos em alavancas de comando, a cabeça com um respirador no nariz, o pé esquerdo num pedal. A parte superior do veículo estaria se afilando como um foguete, na metade superior da figura. Os trajes seriam também semelhantes a trajes que poderiam estar ligados à ideia de um traje de vôo e na cabeça uma espécie de capacete com antenas.

Fica muito difícil contradizer Däniken sem conhecimento em mitologia maia. É preciso analisar a obra e saber a que mito ela corresponde. Assim, ele desarma o contraditor.

Na página 126, o autor nos remete ao mito de Quetzalcoatl como sendo um homem de barba. Para o autor, ele não poderia ter vindo do mundo antigo, posto que teria trazido consigo a roda. Segundo a lenda maia ele teria ido para a Estrela d’Alva, o planeta Vênus.

O autor nos diz que ele não poderia, inclusive, ser um discípulo de Jesus, como afirmam algumas teorias, mas algumas evidências nos dizem que ele poderia ser um ariano, vindo da Fenícia, após os arianos terem migrado do atual Irã para esta região, conforme nos dizem os livros de Gaston Courtillier, Pedro Guirao e Davis Hatches Childress, este último um membro do “clube” do programa televisivo Alienígenas do Passado.

Na página 134, o autor defende o gasto de bilhões em pesquisa espacial, mesmo com toda a miséria do mundo, neste livro escrito em 1968. Ele afirmou, à época que escreveu o livro, que as nações industrializadas já prestavam auxilio às nações subdesenvolvidas. Ele também afirma que os mísseis nucleares tinham proporcionado a paz no planeta. Isso é um indício de que a ideologia dos antigos astronautas teria um papel importante para a justificativa do programa espacial junto ao público. Seus livros vendem milhões de cópias. Também von Däniken afirma a necessidade de se buscar recursos naturais como o urânio em outros planetas, quando de sua escassez, e nos fala sobre os avanços em tecnologia sobre diversos produtos que a pesquisa espacial proporciona.

Logo nas páginas 134-135, von Däniken critica as tradições religiosas que impedem os povos de “progredirem” (termo nosso). Neste sentido, ele está sendo iluminista, como já dissemos neste texto. Ou seja, ele defende a razão contra as supostas trevas do mito. A sua técnica de interpretação e descrição é de caráter literal, apofântica, declarativa, ou seja, positivista, desmerecendo o mito, como dissemos, e o recurso à alegoria por parte dos “artistas” dos povos antigos.

Nas páginas 152-154, von Däniken nos fala sobre a questão de Marte e seus satélites e expõe a teoria de Carl Sagan, e do cientista russo Shklovsky, segundo a qual uma das luas deste planeta, Fobos, seria oca, semelhante a um satélite artificial, e, portanto, teria sido construída por alguma inteligência extraterrestre. Os dois cientistas chegam a esta conclusão pela aceleração dos satélites e falta de sincronia entre as revoluções destes corpos e a rotação de Marte. Segundo o autor, seres extraterrestres poderiam ter vindo de Marte para a Terra, e seriam gigantes, devido à gravidade desse planeta e aqui teriam construído monumentos megalíticos e ensinado técnicas avançadas aos terráqueos.

Quanto a Vênus, o autor afirma que pode ter nascido de uma grande colisão entre o planeta Marte e um cometa de grandes proporções, segundo a teoria do cientista Velikovsky, pelo menos pelo fato de Vênus ter uma alta temperatura em sua superfície e de Vênus ter um giro no sentido contrário aos demais planetas.

A partir da página 164, o autor prossegue com uma contabilidade do número possível de planetas com vida inteligente, segundo uma equação, a de Green-Bank, nome de uma localidade nos Estados Unidos onde, em 1961, onze cientistas se reuniram em uma conferência secreta para tratar para tratar do problema da existência de vidas inteligentes extraterrenas. Segundo essa fantástica, dizemos, equação, haveria entre 40 (usando-se insumos mínimos à fórmula) e 50.000.000 de civilizações diversas que tentam contato com a Terra, apenas na Via Láctea.

Fig. 7 – O círculo de dólmens de Stonehenge. By garethwiscombe – https://www.flickr.com/photos/garethwiscombe/1071477228/in/photostream/, CC BY 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=13278936

O círculo das disputas permanece ativo. As assertivas, distantes.

  • CONCLUSÃO


Praticamente já expusemos nossa conclusão no decorrer do texto, qual seja, a forte probabilidade dos autores tratados aqui agirem como divulgadores e “advogados” dos programas espaciais e bélicos das nações dominantes do planeta, coisa que é fortemente sugerida no livro analisado, Eram os deuses astronautas?, o primeiro de Erich von Däniken. Este livro foi publicado em 1968 no auge da corrida espacial e um ano antes da chegada do homem à lua, em 1969. Os livros parecem ser peças ideológicas, em sentido marxista (discurso para a manutenção da hegemonia das classes dominantes). Propagam a tecnologia e a dominação das grandes potências, contemplando o espaço sideral como fronteira a ser explorada, provavelmente explorando a ideia de fazê-lo antes que seres alienígenas venham exercer um domínio sobre nós, do planeta Terra.

Hoje a onda alenígena é um fenômeno notório, atingindo um enorme número de pessoas a julgar pela quantidade de publicações nas mídias.

Do ponto de vista religioso, este campo “teórico” descredencia a Bíblia, e outras escrituras de diversas religiões como relato mítico, mas não afirma a inexistência de Deus, visto que vale a ressalva: se os alienígenas criaram o ser humano por manipulação genética, quem criou os alienígenas? Outros alienígenas o fizeram? E assim ad infinitum, com o big bang como criador de tudo, inclusive da consciência? Ou há um Deus criador dos alienígenas por sua vez criadores de outros seres, repetindo? Este Deus manifestar-se-ia na Terra encarnado em um homem-Deus, como Jesus Cristo, ou Krishna? De qualquer forma, relatos míticos, como o da Bìblia, saem atingidos, numa espécie de neo-iluminismo, ou tardopositivismo. Ambos sem um fundamento sólido em que basear seu reducionismo.

Afinal, isso é pós-modernismo (pós-utopia) ou a velha utopia liberalista? As duas coisas podem coexistir.

Quanto ao emaranhado de migrações exposto no capítulo 2, caso esteja correta a listagem, tendemos a crer que este sim é o verdadeiro motivo do aparecimento de obras de arte e monumentos com liguagem similar em diversos locais do globo. Apenas o corte, transporte e colocação de pedras gigantescas, os chamados monólitos, ficariam sem resposta em nossa tese migratória.

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